Autor: Ken Follett
Título Original: Fall of Giants (2010)
Série: Trilogia “O Século” #1
Editora: Editorial Presença
Páginas: 921
ISBN: 9789722344289
Tradutor: Alice Rocha
Origem: Comprado
Neste primeiro volume, que começa em 1911 e termina em 1925, travamos conhecimento com as cinco famílias que nas suas sucessivas gerações virão a ser as grandes protagonistas desta trilogia. Os membros destas famílias não esgotam porém a vasta galeria de personagens, incluindo mesmo figuras reais como Winston Churchill, Lenine e Trotsky, o general Joffreou ou Artur Zimmermann, e irão entretecer uma complexidade de relações entre paixões contrariadas, rivalidades e intrigas, jogos de poder, traições, no agitado quadro da Primeira Grande Guerra, da Revolução Russa e do movimento sufragista feminino.
Um extraordinário fresco, excepcional no rigor da investigação e brilhante na reconstrução dos tempos e das mentalidades da época.
Opinião: Vocês quiseram que eu lesse A Queda dos Gigantes durante o mês de novembro e, após cerca de 3 semanas de leitura e quase 1000 páginas, aqui estou eu para vos dizer o que achei. Este livro é o primeiro de uma trilogia que, até ao presente, já conta com 2 livros e que pretende, basicamente, apresentar a história de um conjunto de personagens fictícias tendo como contexto os principais acontecimentos históricos que marcaram o século XX. Esta descrição é importante para que se perceba em que consiste este ambicioso livro do escritor: a componente histórica tem bastante relevância e é aprofundada com bastante detalhe, mas são as personagens fictícias criadas pelo autor, as suas vidas e desafios, que assumem o papel central deste livro.
As 5 famílias a que a sinopse se refere são oriundas, convenientemente, dos participantes mais “importantes” da Primeira Guerra Mundial: Reino Unido, Alemanha, Rússia e Estados Unidos. São pessoas de diferentes estratos sociais, com experiências de vida muito diversas e que nos são apresentadas num contexto pré-guerra que nos dá uma ideia muito bem conseguida do que era a sociedade de então nos países referidos. Nesta fase, o autor consegue igualmente explicar de forma clara a complexidade de acontecimentos que originaram o primeiro conflito mundial do século XX. Confesso que já não recordava muito das aulas de História de há quase 15 anos, mas foi com muito interesse que recordei todos estes acontecimentos.
A secção do livro dedicada aos quatro anos que durou a Primeira Guerra Mundial é também o mais longo e aborda de forma detalhada as principais batalhas ocorridas, as tentativas de paz, os avanços e recuos na guerra das trincheiras e a decisiva participação dos Estados Unidos da América na Guerra. Também a Revolução Vermelha na Rússia é descrita com bastante detalhe, e o leitor pode acompanhar todos os acontecimentos relevantes que originaram a subida dos Bolcheviques ao poder num país que vivia há séculos sob o jugo dos czares. Ao mesmo tempo, são abordados temas sociais, com especial destaque para a luta pela implementação do voto feminino no Reino Unido.
Ora bem, e depois disto tudo, como é que correu a leitura e o que é que eu achei do livro? O maior ponto positivo foi decididamente a componente histórica e o que (re)aprendi com este livro. O nível de detalhe é grande e, apesar de algumas partes que, na minha opinião, acabam por se arrastar em demasia e quebrar um pouco a dinâmica do livro (nomeadamente no que se refere à Revolução Russa), foi quase sempre com prazer que li sobre todos os acontecimentos históricos que rodearam a Primeira Guerra Mundial. O autor deixou notavelmente de fora da história os conflitos que decorreram fora da Europa e pouco fala dos países com participação mais moderada (em termos de número de soldados) na Guerra: Portugal, por exemplo, é apenas referido aquando das discussões do tratado de paz e a intervenção do representante português acaba por ser ridícula.
Como disse no início, apesar da forte componente histórica, este é um livro sobre pessoas e as suas lutas pessoais. E foi aqui que o livro me desiludiu. O galês Billy Williams, com a sua coragem, inteligência e perspicácia foi a única personagem que realmente me conquistou. Achei interessante que duas das personagens principais da história fossem pessoas de caráter duvidoso e tive esperança que, por esse motivo, acabassem por se tornar nas melhores personagens do livro, mas a meu ver, com o evoluir da história, acabam por se tornar algo caricaturais e previsíveis. Depois, não consegui “engolir” as inúmeras coincidências que levam as personagens centrais a estarem constantemente a encontrar-se, mesmo no palco de guerra. Esta vontade do autor de entrelaçar a vida das suas personagens pareceu-me demasiado forçado. Já para não falar das convenientes relações com figuras importantes dos vários países em guerra. E depois, não sou fã de tanto drama: traições, gravidezes, casamentos… às tantas, confesso que me cansei de tantos acontecimentos novelescos. Mas para mim, o pior de tudo foi nunca me ter sentido ligada emocionalmente às personagens. Não acho que a caracterização tenha sido particularmente bem sucedida porque as personagens nunca se me apresentaram como pessoas a três dimensões, reais, com dilemas que realmente me emocionassem e me pusessem a torcer por elas e pelo seu destino.
Penso que este é um bom livro, apesar de todos os “defeitos” que lhe aponto. É resultado de um evidente esforço de pesquisa e a escrita, apesar de me ter parecido por vezes demasiado básica e sem brilho, acaba por proporcionar uma leitura agradável. Para mim, a leitura valeu essencialmente pela aprendizagem; não é um livro que me tenha marcado e que se tenha tornado memorável pelos motivos que apontei, mas não me arrependo das várias horas de leitura que lhe dispensei. E fico com curiosidade para ler O Inverno do Mundo, que tenho ali na prateleira, a aguardar a sua vez.
Classificação: 3/5 – Gostei