Autor: Oscar Wilde
Título Original: The Picture of Dorian Gray (1890)
Editora: Dom Quixote
Páginas: 327
ISBN: 9789722023948
Tradutor: Januário Leite
Origem: Comprado
Opinião: O Retrato de Dorian Gray era um daqueles livros que tinha há imenso tempo por ler, que queria ler, mas que por um ou outro motivo foi ficando sempre à espera da sua vez. Vocês quiseram que eu o lesse, e por isso assim o fiz. Não há muito que eu possa dizer relativamente a este livro que não tenha já sido dito antes. O Retrato de Dorian Gray foi o único romance publicado pelo escritor irlandês, mas a sua importância no cânone literário e as inúmeras adaptações que teve entretanto, seja para cinema ou para teatro, valeram a “imortalidade” do escritor.
Fui para esta leitura não sabendo grande coisa do enredo, com exceção da noção que tinha da estranha ligação de Dorian Gray com o seu próprio retrato. Basil Hallward, um pintor que se enamorou de Dorian, pintou a sua obra-prima inspirado pela beleza e personalidade jovem de Dorian, mas este, temendo o seu envelhecimento e o impossível regresso ao que antes fora, expressa o seu desejo de manter para sempre a sua juventude, tal como tinha ficado retratada na dita pintura. E é precisamente isso que lhe é concedido: cada ação corrupta e impregnada de mal que comete refletem-se na sua imagem no quadro, enquanto Dorian continua sempre belo, sem envelhecer.
E, assim, vamos acompanhando um desfilar de acontecimentos que marcam a personalidade execrável de Dorian, e que, de uma ou outra forma, ele vai conseguindo esconder da sociedade. Apenas ele e o retrato que escondeu numa sala, da qual só ele possui a chave, sabem o quão corrupta é a sua alma. Dorian é uma personagem egoísta, hedonista e narcisista, com gostos e interesses que mudam tão frequentemente como as marés e que faz da duplicidade um modo de vida. É uma personagem detestável, que me parece assim construída de propósito, mas que me irritou amiúde.
É um livro claramente marcado pelo Esteticismo, um movimento artístico que conheceu maior expressão na Europa na parte final do século XIX e que enfatizava os valores estéticos em detrimento dos temas sociais. Pela voz de Harry Wotton, uma influência considerável na vida de Dorian Gray, o autor discorre filosoficamente sobre os valores da beleza, e nestes diálogos concentram-se muitos dos temas e influências principais desta obra. São secções que exigem a concentração máxima da parte do leitor e que facilmente podem tornar-se algo aborrecidos se não forem lidos com o espírito certo, mas certamente recompensadores a nível intelectual. Achei a duplicidade da personagem principal uma crítica extremamente bem conseguida a pessoas que vivem de aparências e, por isso, mantém-se bastante atual. O final foi inesperado, mas fantástico.
Achei O Retrato de Dorian Gray um livro excelente. Longe de ser uma leitura impulsiva, tem a sua mais valia nos temas que aborda e na escrita exímia do autor. Não terá sido o livro que mais me emocionou ou com as personagens com as quais mais me identifiquei, mas não é difícil perceber o lugar que ocupa entre os clássicos da literatura mundial.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante