Autor: Joseph Pearce
Título Original: Tolkien: Man and Myth (1998)
Editora: Europa-América
Páginas: 248
ISBN: 9721050938
Tradutor: Ana Margarida Pereira Marcos
Origem: Comprado
Tolkien – O Homem e o Mito penetra profundamente no mundo criado por Tolkien, explora o significado da Terra Média e do que ela representa no conjunto do pensamento do autor. Mas Joseph Pearce foca também outros aspectos: a sua relação com os colegas literários e com a família, a importância da sua fé religiosa e o impacto da notoriedade sobre a sua vida.
Opinião: Já não é surpresa para ninguém que J.R.R. Tolkien é o meu escritor preferido. Para além da maioria das suas obras, conhecia antes de ler este livro algumas particularidades da sua vida e das suas opiniões face a uma miríade de temas, mas ainda assim foi com muita curiosidade e entusiasmo que iniciei esta leitura.
Estamos aqui perante uma biografia que, na minha opinião, não é uma biografia no sentido tradicional do termo. Isto porque, apesar de abordar vários aspetos da vida pessoal do escritor – especialmente no que se refere ao início da sua vida – foca-se essencialmente na influência que a religião católica e o seu contacto com a Inglaterra rural em criança teve nas obras que escreveu mais tarde.
O ponto de partida deste livro foi um inquérito aos leitores levado a cabo na cadeia inglesa de livrarias Waterstones, em 1997, que pretendia eleger o melhor livro inglês do século XX. O Senhor dos Anéis ganhou com grande vantagem, o que deu azo a críticas ferozes por parte de críticos literários profissionais e figuras conhecidas, isto apesar de inquéritos posteriores terem confirmado a preferência do leitor comum por essa obra. Joseph Pearce viu neste acontecimento uma boa oportunidade para analisar a vida e obra de Tolkien sob uma perspetiva mitológica, com raízes religiosas profundas.
O livro analisa de forma relativamente exaustiva a forma como a crença católica de Tolkien influenciou a sua obra, e de forma bem fundamentada. Achei muito curioso o facto de, insconscientemente, já ter noção do quanto os valores católicos influenciam O Senhor dos Anéis, através dos temas, da moral, do sacrifício, mas não ser, em absoluto, algo que me faça gostar menos do livro tendo em conta que sou agnóstica. Na verdade, penso que Tolkien embrenhou as suas obras daquilo que mais belo tem a mitologia cristã, a nível de ensinamentos e modos de vida, e criou um mundo e ambiente no qual tudo isto existiria de forma ideal.
Nota-se em várias partes deste livro – que foi escrito em 1998 – a relutância dos círculos literários em aceitar O Senhor dos Anéis como uma obra relevante na literatura inglesa e mundial. Julgo que a passagem da obra para o cinema a terá ajudado a tornar-se mais consensual. Teria sido interessante saber o que o autor pensa sobre o assunto. Mas apesar de já ter 15 anos, penso tratar-se de um livro cujas conclusões se mantêm bastante válidas e serão de especial interesse para quem já conheça bem a obra de Tolkien e deseje aprofundar o significado das coisas que escreveu nas duas perspetivas que referi acima.
De resto, tinha expectativas para este livro que não se confirmaram. Apesar de ter achado o livro interessante, estava à espera de uma biografia de vida. Penso também que o livro se vale demasiado de citações de cartas de Tolkien e de outros livros escritos sobre ele para fazer valer os seus pontos de vista. Não é que não esteja bem estruturado, mas por vezes achei cansativo. Uma nota final para esta edição: demasiadas gralhas, mas tendo em conta que se trata de uma edição da Europa-América, já era mais ou menos de esperar.
Classificação: 3/5 – Gostei