O quarto número da Clarkesworld tinha especial interesse para mim por conter um conto da Elizabeth Bear, uma das autoras de fantasia que mais tenho vontade de experimentar, até porque tenho um livro dela por ler, Range of Ghosts. A ilustração da capa entitula-se “gaol” e é da autoria de Jonas Jakobsson.
“Orm the Beautiful“, Elizabeth Bear
Orm the Beautiful é o último dragão à face da Terra, num mundo contemporâneo. Vive numa caverna com os restos dos seus antepassados, dos quais é o guardião, e estes devem permanecer juntos de modo a que as memórias e a canção da sua raça não sejam perdidos e esquecidos. A chegada de caçadores à montanha onde vive faz com que Orm perceba que a caverna deixou de ser um local seguro, levando-o a procurar a ajuda de um museu de Washington para ser fiel depósitário dos restos da sua raça.
Numa prosa algo complexa mas de leitura agradável, Elizabeth Bear narra uma história muito visual, repleta de nostalgia; é um tanto instrospetiva e tem um final agridoce. Sem dúvida que é uma autora para continuar a explorar. – 4/5
“Automatic“, Erica L. Satifka
Num conto bastante curto, Erica L. Satifka consegue descrever eficientemente um mundo distópico e pós-apocalíptico. O cenário é uma Nova Iorque futurista na qual só vivem 320 humanos, dominados pelos “Ganys” (que me pareceram uma espécie de extra-terrestres, mas não vou jurar). Todos os restantes humanos foram eliminados por uma praga, e a cidade encontra-se rodeada por um muro que repele quem queira passar para o outro lado através de uma barreira olfactiva.
O narrador desta história é interpelado por uma mulher, que deseja ter relações sexuais com ele a fim de procriar e continuar a espécie, mas ele recusa-se a ceder aos instintos básicos de sobrevivência e deseja manter-se o mais independente possível. Todo o conto é escrito num tom direto, cínico e algo pessimista, mas que sinceramente me agradou. No fim, ficou só a pena de ter acabado tão depressa. – 4/5