Na passada quinta-feira, recebi um email da Saída de Emergência que dava conta de uma iniciativa programada para hoje, dia 23 de Abril e Dia Mundial do Livro, na qual, em parceria com a Caixa Geral de Depósitos, iriam ser distribuídos gratuitamente por todo o país, cerca de 12.000 livros de uma seleção variada de autores, que incluía, por exemplo, Anne Bishop, Charlaine Harris ou Nora Roberts. Na sexta-feira, a editora anunciou que a iniciativa tinha sido cancelada porque a CGD alegava que “alguns livros continham linguagem com o potencial de ferir a suscetibilidade de alguns clientes, não os considerando adequados ao posicionamento e imagem do banco.“
Hoje, o jornal i faz uma chamada de capa a este assunto com o título “CGD cancelou à última hora oferta de livros eróticos a clientes“. Wait, WHAT?
Vamos por partes: a CGD aceitou participar numa iniciativa sem aparentemente ter analisado bem a questão. Acho ridículo e de um falso moralismo os motivos que alegaram para desistir. Aposto que a maior parte dos clientes da CGD vê uma novela que a TVI passa à noite, em que o genérico apresenta uma mulher praticamente nua. A nudez e a sexualidade estão presentes para onde quer que olhemos nos dias que correm e os livros não são exceção – basta observar os tops de vendas para perceber que a moda dos livros eróticos está para durar. Mas pronto, em última análise, estão no direito deles decidir não participar numa iniciativa do género pelos motivos que alegam, e só é pena terem feito a triste figura de aceitarem e recusarem logo de seguida. Acho que ficaram muito mal na fotografia.
Mas foi o artigo do i que me levou a escrever este post. Quem lê o texto e desconhece a editora Saída de Emergência fica a pensar que esta se dedica principalmente à publicação de livros eróticos. Publica-os, é certo, mas a Saída de Emergência tem-se destacado principalmente pelas publicações na área do fantástico e do romance. Mas quais eram então os livros dentro da iniciativa que escandalizaram a CGD? A resposta: “Sr. Bentley, o Enraba Passarinhos”, “Carne Crua” e “Despertada”. O artigo do i diz que este último tem uma dedicatória “aos adolescentes que se entendam pertencentes ao grupo lésbicas, gays, bissexuais e transgénero”. Fantástica esta forma de catalogar livros, hein? É que o “Despertada” faz parte de uma série para jovens adultos dentro do género paranormal. Erótico, a sério? Dos outros dois, só “Carne Crua” me parece ser realmente erótico, apesar de não o ter lido. É um artigo desinformado, superficial, sem trabalho de fundo e que me parece ter o objetivo passar uma esponja na decisão da CGD. Espero que como resultado disto, a editora ganhe “publicidade” e venda mais livros!