Autor: Dulce Maria Cardoso
Ano de Publicação: 2011
Editora: Tinta da China
Páginas: 267
Origem: Empréstimo
1975. Lisboa. Durante mais de um ano, Rui e a família vivem num quarto de um hotel de 5 estrelas a abarrotar de retornados — um improvável purgatório sem salvação garantida que se degrada de dia para dia. A adolescência torna-se uma espera assustada pela idade adulta: aprender o desespero e a raiva, reaprender o amor, inventar a esperança. África sempre presente mas cada vez mais longe.
Opinião: A vontade de ler este livro surgiu por dois motivos: em primeiro lugar, o reconhecimento de que tem sido alvo, não só em Portugal, como também lá por fora; em segundo lugar, porque li o conto desta autora que integra a coleção do DN (opinião para breve) e fiquei curiosa por mais. O livro estava disponível na biblioteca e, portanto, decidi lê-lo.
O contexto deste livro é o pós-25 de Abril e os milhares de pessoas que vieram/regressaram das ex-colónias portuguesas para Portugal. “O Retorno” inicia-se em Angola, quando uma família de 4 pessoas se prepara para dizer adeus a todos os bens frutos de uma vida de trabalho, devido à cada vez mais precária situação dos “brancos”. O narrador é Rui, um dos filhos adolescentes do casal Mário e Glória, e o texto, ao estilo de Saramago, corre ao sabor dos pensamentos e dos diálogos que fazem parte desta fase da vida do jovem.
A história começa em Angola e conta os últimos dias da família naquele país. Depois, a vinda para a “metrópole” e todas as dificuldades que os retornados cá vieram encontrar, ao contrário das oportunidades que esperavam estar à sua espera. O contexto histórico e os excessos que se viveram na altura são o grande motor da narrativa e está sempre, de um ou outro modo, presente na vida das personagens principais no modo como afeta o seu destino. Mas não é, de todo, o principal foco. Estamos perante uma personagem que sofre as dores do crescimento, da esperança perdida e reencontrada, da perda da infância que depois se transforma apenas em recordações agridoces. Não é difícil adivinhar que a própria autora passou pelo “retorno”, porque provavelmente só quem viveu a situação a conseguiria descrever com tanto detalhe emocional. Achei curiosa a opção do narrador rapaz tendo em conta que a autora é uma mulher e, apesar de achar que a personagem tem uma voz muito própria, por vezes achei-a demasiado eloquente para um rapaz de 15 anos.
E aqui estava um livro que tinha tudo para me agradar. Gosto da história da época, acho que a autora escreve muito bem e a narrativa tem momentos brilhantes. Mas a páginas tantas o livro cansou-me, com as constantes inclusões de diálogos no meio do texto, que exigem atenção do leitor a 100%. Talvez não me tenha apanhado no melhor momento, mas a verdade é que dei por mim a olhar constantemente para a página em que ia e a fazer as contas a quantas faltavam para terminar – o que não costuma ser bom sinal. Em jeito de resumo, reconheço a valia deste livro, especialmente a nível da escrita, mas esperava que me cativasse mais.
Classificação: 3/5 – Gostei