Autor: Yann Martel
Editora: Difel
Páginas: 341
ISBN: 9789722906555
Tradutor: António Pescada
Origem: Comprado
Opinião: Este livro era, certamente, um dos que estavam há mais tempo por ler na minha estante. Lembro-me que o comprei para aí na Feira do Livro de 2007 ou 2008 e desde então aguardou pacientemente a sua vez. A recente adaptação cinematográfica e as opiniões bastante positivas que li de pessoas de confiança foram o impulso que faltava para começar finalmente a lê-lo.
Yann Martel é um escritor desinspirado que encontra finalmente a história que precisa de contar numa viagem à Índia. Toma conhecimento da fantástica história de sobrevivência de Piscine Molitor Patel (nome de uma piscina francesa), abreviadamente Pi. A narrativa passa a ser contada na primeira pessoa por Pi, e o livro tem três partes distintas: na primeira, ficamos a par da infância/adolescência de Pi na Índia, quando a sua família era dona de um jardim zoológico e Pi descobriu a religião pela primeira vez; a segunda parte, a maior e central da história, relata o naufrágio do navio onde Pi e a família rumavam ao Canadá e a difícil luta pela sobrevivência que travou ao longo de meses; a terceira e última parte é a que dá todo o sentido ao que acabámos de ler.
Fiquei de pé atrás assim que li no início de livro que esta era uma história que faria o leitor acreditar em Deus. A religião não é, de todo, um tema do qual seja particularmente fã, e quando na primeira parte Pi discorre de forma algo detalhada sobre a religião cristã, muçulmana e hindu suspirei de aborrecimento, engonhei a leitura e pensei mesmo que ia ser uma espécie de suplício terminar o livro. Ainda bem que persisti, porque acabei por ser agradavelmente surpreendida. A segunda parte do livro tem momentos muito parados, alguns mesmo nojentos pela descrição dos extremos a que os instintos de sobrevivência podem levar o ser humano, mas a verdade é que fiquei agarrada ao livro, fascinada pelo correr do tempo, pelo desafio do lutar todos os dias para sobreviver, sem nunca desesperançar, apesar de tantas coisas correrem mal a Pi. Penso que aqui é de destacar o realismo com que Yann Martel descreve estes dias de suplício e o suceder de privações, fazendo o leitor ficar quase com a garganta seca e com o estômago a roncar quando descreve a sede e a fome que Pi tem de enfrentar.
Adorei a relação e a interação de Pi com Richard Parker, o “seu” tigre. Não só ao longo dos dias de naufrágio, mas também quando sabemos mais sobre o funcionamento do jardim zoológico no início do livro, o leitor vê-se perante uma série de factos fascinantes sobre a vida animal que oferecem, sem dúvida, toda uma nova perspetiva sobre a relação e interação entre o ser humano e os animais, mais ou menos selvagens.
Mas do que gostei mais neste livro foi mesmo da mensagem de esperança e do poder de acreditar. Não me revi em tudo aquilo em que a personagem acredita, mas é uma lição quanto à forma como se escolhe encarar a vida e as dificuldades que ela por vezes nos apresenta. Não me identifiquei muito com a personagem principal – penso que o início da história me dificultou um pouco esse processo – mas admirei-a pela força de viver e pela forma de encarar as contrariedades. Recomendo, portanto.
4/5 – Gostei Bastante