[Opinião] O Dragão do Inverno & Outras Histórias, de George R.R. Martin (Parte 1)

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Autor: George R.R. Martin
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 384
ISBN: 9789896374617
Tradutores: Jorge Colaço e Luís Santos
Origem: Comprado

Sinopse: George R. R. Martin, autor de As Crónicas de Gelo e Fogo, regressa com algumas das suas melhores histórias de sempre. 

Uma criança do inverno cria uma relação especial com um dragão. Uma nave espacial ruma no espaço em busca de uma mítica raça, mas estará o mistério na própria raça ou na estranha nave em que navegam? Uma velha torre de cinzas serve como refúgio para um homem destroçado. Um escritor cria um universo de personagens, e cada uma delas vive no mundo que ele lhes determinou. Um milionário convoca os seus antigos colegas para um confronto de xadrez com revelações inesperadas. Um homem adora comer mas odeia ser gordo, conseguirá a provação do tratamento do macaco ajudá-lo a definir prioridades? A vida sexual de um manipulador de cadáveres pode ser relativamente perfeita, mas não quando se acredita no amor. 

Dez histórias multipremiadas que exploram temas universais, de leitura indispensável para os fãs do autor e para todos os que desejam conhecer o verdadeiro potencial da literatura fantástica.

Opinião: “O Dragão de Inverno & Outras Histórias” é o segundo livro de contos de George R.R. Martin publicado em Portugal (o primeiro foi “O Cavaleiros de Westeros & Outras Histórias”, que o autor veio apresentar quando esteve cá em Abril de 2012). Reúne vários contos que o autor escreveu a partir dos anos 1970, dentro dos géneros fantasia, ficção científica e horror. O livro é composto por 10 contos, que irei comentar individualmente. Só num post ficaria demasiado grande, por isso decidi dividir em dois. No segundo post, farei as considerações gerais sobre o livro como um todo.

1 – Esta Torre de Cinzas (1974)
Num mundo distante e largamente inexplorado, um homem vive isolado numa torre decrépita, que adivinha ter sido outrora o posto avançado de uma civilização perdida. Johnny isolou-se do mundo naquela torre para conseguir esquecer o facto de o seu grande amor, Crystal, o ter trocado pelo seu amigo Gerry. E vive, assim, uma vida de eremita, contactando com o resto do mundo apenas através de Korbec, que lhe traz mantimentos em troca do desejado veneno das aranhas-dos-sonhos, que Johnny obtém nas suas incursões pela floresta. Quando Crystal e Gerry o visitam, Johnny vê regressar a sua mágoa e os três vivem uma curta aventura, na qual Johnny vê a oportunidade para provar a Crystal o quanto ainda gosta dela.

Gostei deste conto, em especial da capacidade do autor em criar um mundo fictício plausível em poucas páginas, com detalhes interessantes. Bem escrita e focando-se no tema da solidão e do desgosto no amor (que o autor bem conhecia quando a escreveu), não foi uma história que me cativasse por completo. Mas ainda assim gostei. – 3/5

2 – E Sete Vezes Nunca Mateis um Homem (1975)
A história aqui relatada decorre no mesmo mundo presente no conto anterior, apesar de o planeta ser diferente (desta vez, estamos em Corlos). Nesse planeta, os Anjos de Aço, que fazem parte de um culto religioso/militar, tentam exerminar os Jaenshi, um povo não humano e antigo de Corlos, que adora umas estranhas pirâmides de pedra. Perante esta situação, o comerciante Arik neKrol tenta instigar os Jaenshi a lutarem pela sua sobrevivência. Foi a primeira história escrita por George R.R. Martin nomeada para um prémio Hugo (que não venceu). Apesar de ter achado interessante pelas reflexões que instiga relativamente à imposição de crenças e modos de vida de uns povos face a outros, fiquei um pouco indiferente às personagens e ao desenrolar do enredo. – 3/5

3 – O Dragão do Inverno (1980)
Apesar de nada no texto o confirmar, nem ter havido nenhuma afirmação de Martin nesse sentido, a verdade é que este conto tem um contexto faz lembrar Westeros, pelos aspetos medievais, pela existência de dragões e, acima de tudo, pela atração pelo inverno, pelo frio, pelo gelo, que os leitores das “Crónicas” facilmente reconhecerão. “O Dragão do Inverno” é um conto em tom mais juvenil/infantil (foi inclusiva republicado em 2006 com ilustrações) que conta a história da pequena Adara, que nasceu no inverno, que anseia pela chegada desta estação e que se sente atraída por tudo o que é frio. Às tantas, conhece o indomável dragão de gelo, que em vez de cuspir fogo cospe gelo e que aterroriza todos aqueles que se atravessam no seu caminho. É uma história de amizade, bem desenvolvida tendo em conta as restrições de tamanho e que realça a faceta de bom contador de histórias do autor. – 4/5

4 – O Homem da Casa-da-Carne (1976) 
De todas as mentiras cintilantes e cruéis que nos dizem, a mais cruel é aquela a que chamam amor.” – Esta frase, a última do conto, resume bem os acontecimentos que relata. Para uma história que fala de amor, ou melhor, dos desgostos e ilusões que pode produzir, o background escolhido não deixa de ser surpreendente. Trager, o protagonista trabalha numa mina do planeta Skrakky como manuseador de cadáveres, cujos cérebros originais foram removidos para dar lugar a cérebros artificiais que lhes permitem ficar “vivos” e trabalhar. Mas estes cadáveres são também utilizados em bordéis – as casas-da-carne – onde manipuladores os controlam para responder a estímulos sexuais. Trager sente-se solitário e recorre amiúde a estes bordéis, apesar  de continuar a ter a esperança de um dia encontrar o verdadeiro amor.

É uma história que fala sobre a procura do amor, de uma forma bastante juvenil e inocente num cenário, digamos, nojento. Aborreci-me um bocado com a busca do amor por parte de Targer, mas achei as premissas do conto – mesmo com os cadáveres – relativamente interessantes. – 2/5

5 – Recordando Melody (1981)
Mais uma história com elementos de horror. Ted é um advogado que, um dia, vê à sua porta Melody, uma antiga companheira de quarto da faculdade. Uma rapariga complicada, mentalmente desequilibrada, que ameaça virar a vida de Ted do avesso. Lê-se bem, o final tem um twist interessante, mas não achei um conto especialmente memorável. – 3/5

Parte 2

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.