Autor: David Mitchell
Título Original: Cloud Atlas (2004)
Editora: Dom Quixote
Páginas: 616
ISBN: 9789722029940
Tradutor: Artur Ramos e Helena Ramos
Origem: Comprado
Opinião: Quando este livro foi publicado originalmente em Portugal, em 2007, chamou-me moderadamente a atenção. Ficou naquela categoria de livros “se um dia o apanhar a bom preço sou capaz de lhe dar oportunidade”. O tempo foi passando e tinha-me praticamente esquecido dele, mas a adaptação cinematográfica que estreou recentemente renovou e empolou o meu interesse. Apareceu uma nova edição do livro pela Presença (capa alusiva ao filme, mesma tradução), mas quando vi a edição da D. Quixote à venda por 9,90€ não deixei escapar a oportunidade e comecei a lê-lo quase de imediato.
É um livro difícil de resumir e de definir, tal é a riqueza de géneros, temáticas e vozes literárias que contém dentro de si. O livro está dividido em 11 capítulos distribuídos por seis personagens distintas, cada uma delas vivendo num momento diferente do tempo. O livro começa em 1850, no Pacífico, com Adam Ewing. As personagens que se seguem percorrem o século XX e as duas últimas vivem em mundo futuros, que o autor não situou no tempo. Todas as histórias, com exceção da última, são interrompidas a meio e retomadas mais à frente no livro, pela ordem inversa. O livro termina assim onde começou, com Adam Ewing.
Atlas das Nuvens quase parece uma compilação de 6 novelas, tal é a perícia do autor em distinguir as vozes das suas personagens. Todas as histórias estão extremamente bem escritas, o que é ainda mais notável por se tratarem de pessoas e épocas tão diferentes. Mas o que torna este livro mais do que a soma das suas partes são as ligações subtis entre as histórias e os temas semelhantes que as percorrem. Não quero entrar em muitos pormenores sobre que ligações são estas ou mesmo sobre as histórias em si, porque acho que um dos prazeres deste livro é o leitor descobrir isto por si próprio.
O próprio autor, quando questionado, referiu que o principal tema do livro é o instinto predatório, seja entre indivíduos, entre grupos ou entre nações. David Mitchell pegou neste tema e explorou-o com diferentes personagens, em diferentes contextos e com diferentes géneros literários – ficção história, policial, contemporâneo ou ficção científica. Dito assim parece uma grande salganhada, mas acreditem quando digo que tudo isto se interliga de uma forma que considero quase perfeita.
Acho que é um livro para ser digerido com tempo e calma. Bem, se calhar o mês que demorei a lê-lo foi um pouquinho demais porque quando cheguei às segundas partes das histórias iniciais, que estão no final, não me lembrava de alguns detalhes. Mas ainda assim, não me arrependo de ter feito uma leitura pausada e concentrada, que me permitiu absorver melhor os detalhes do livro.
Um reparo final à edição deste livro: tem demasiadas notas de rodapé. A maioria delas clarificavam palavras e conceitos ou traduziam partes do texto (em francês, por exemplo), mas serviram basicamente para desviar a minha atenção do texto principal e não me trouxeram valor acrescentado à leitura.
Classificação: 5/5 – Adorei