Editores: Sofia Romualdo, Joana Neto Lima, André Nobrega e Rogério Ribeiro
Colaboradores: Joana Maltez, Carla Ribeiro, Pedro Cipriano, Manuel Alves, Pedro S. Ferreira, A.M.P. Rodriguez, Joel Puga, Débora Fortunato Moreira, Cláudia Sérgio, João Ventura, Nuno Mendes, Cátia Marques, Anton Stark, João Barreiros e Carlos Silva
Editora: EuEdito
Páginas: 113
Opinião: Aqui está a continuação da minha opinião sobre este Almanaque. Podem ler a primeira parte aqui.
A secção de Notícias inclui oito textos distintos. Insólito “Crime” nas Margens do Tejo fala sobre dois corpos que deram à costa no rio Tejo, amarrados um ao outro. A notícia apresenta testemunhas e um engenheiro interessado em utilizar um aparelho inovador para descobrir se o principal suspeito é, de facto, culpado. Foi interessante, mas achei que os elementos steampunk estavam demasiado subtis. Explosão da Fundição de Sinos apresenta mais um caso de polícia, desta feita sobre o evento que o título descreve. O dono da fundição morreu na explosão, mas é encontrado um diário seu, que lança algumas luzes sobre o que terá acontecido. Gostei de ler. Portugal e o Mundo Interior explora o desconhecimento do ser humano quanto ao que existe no interior do nosso planeta e coloca Portugal na vanguarda desta exploração. O sucesso do empreendimento é transmitido neste texto através de três peças jornalísticas, que dão conta de descobertas semelhantes às que a exploração do universo poderiam originar: a existência de sóis e as possibilidades da existência de vida inteligente. Portugal vê assim uma oportunidade para regressar ao domínio mundial, mas as coisas acabam por não correr como o esperado. Muito boa, esta “notícia”; adorei a imaginação deste pedaço de história alternativa. Um Dia na Vida do Intrépido Teófilo mostra-nos um dia na vida do famoso escritor e aventureiro Teófilo dos Pais, uma espécie de rock star literária que arrasta multidões por onde passa. Mais um texto que me agradou bastante. Quadragésima Quinta Demonstração Pública Anual da Academia Real de Ciências dá conta deste evento, que expõe e premeia protótipos. Este Nosso Vasto Mundo fala-nos de uma tribo na Polinésia cujo deus é uma máquina a vapor. O texto desenvolvido à volta desta ideia é interessante, apesar de curto. O Vapor e a Electricidade dá conta de um espetáculo baseado no antagonismo dos dois elementos, com estrofes à mistura. Mais uma boa ideia. A secção de Notícias termina com o Obituário do Barão das Antas, inventor de um árbitro a vapor para jogos de futebol. Com certeza não tomaria decisões mais estapafúrdias que os árbitros de carne e osso. 😀
Na secção de Entrevistas (que talvez devesse ter-se chamado “Entrevistas e sugestões de leitura”), podemos ler três entrevistas com as autoras Cherie Priest, Gail Carriger e Meljean Brook, bastante conhecidas nos meios steampunk. As entrevistas (em inglês) são antecedidas de uma breve biografia das autoras. Gostei de todas, apesar de ter tido pena que não fossem mais longas e que não tivessem sido traduzidas para português. Esta secção inclui ainda várias sugestões de leitura dentro do género, em português e em inglês, reais e imaginárias. Gostei da inclusão de uma crítica literária sobre o último livro do Intrépido Teófilo e do resumo da sua próxima publicação.
Três Contos fecham este Almanaque. O primeiro deles é Coração Atómico, de Manuel Alves, que tem como personagens principais os dois autómatos construídos pelo dono da fábrica no Explosão da Fundição de Sinos. Ambos conseguem observar o sol como mais ninguém e indagam-se sobre como seria ser humano, ter sangue a correr nas veias, sentir, ter fé, amar. Quando o seu Criador vai finalmente completá-los, dá-se o tal incidente na fábrica e ficamos assim a saber mais sobre o mistério levantado pelo texto na secção de Notícias. Gostei muito deste conto, a todos os níveis: bem escrito, com uma boa história e um bom desenlace. O conto seguinte é Colombo, de Carla Ribeiro, que conta a história do homem com esse nome e da magnífica nave homónima que inventou. Colombo sente-se amargurado porque a sua nação ignorara a sua invenção, devido à sua juventude, e o inventor aliou-se a uma nação inimiga que, durante a guerra, derrotou a sua terra natal. Colombo sente-se, assim, um traidor, e luta contra o sentimento de angústia que o consome. É um conto muito bem escrito, que desde o início tem uma nuvem negra a pairar por cima de si. Esse sentimento negro acaba por se revelar no final, mas ainda assim gostei da mensagem de liberdade e, de certo modo, de esperança. O último conto, O Saque da Lampedusa, foi escrito por João Barreiros, autor de quem já li uma compilação de contos. Este conto, narrado na primeira pessoa por um robô instalado num tanque de assalto alemão, dá-nos conta das suas aventuras após o tanque ter ido parar ao Mediterrâneo perto da costa africana. Pessoalmente, foi o que menos gostei dos três. Está bastante bem escrito, mas confundiu-me e não percebi bem o final.
Gostei bastante deste Almanaque Steampunk. Está bem organizado, tem diversidade, imaginação e qualidade de conteúdos e um design apropriado. Teria sido lindo design interior e imagens a cores, mas imagino que isso teria feito disparar o preço do Almanaque. Tem um ou outro ponto que precisaria de ter sido mais bem afinado, mas de um modo geral foi bastante bem executado e trouxe realmente algo de novo. Estão todos de parabéns. Fico à espera do Almanaque 2013!
4/5 – Gostei Bastante