Intermitências (2)

O Natal traz-me boas recordações. Não propriamente de prendas recebidas – apesar de, em criança, esse ser o atrativo principal – mas de momentos passados em família, em casa ou na terra dos meus pais, no Baixo Alentejo, aí sempre com a lareira presente para fazer face aos dias frios. Eram tempos de brincadeira, de doces típicos – as filhós, os sonhos de abóbora, o bolo podre e variada doçaria -, de ansiedade em que a meia-noite chegasse. Sim, porque a tradição mandava que os presentes só fossem abertos à meia-noite e, muitas vezes já cheia de sono e farta de esperar, lá me conseguia aguentar.

 

Nunca recebi muitos presentes – uns 2 ou 3 por natal – sendo que havia um deles que era mais caro e que aguardava com mais ansiedade. E a verdade é que adorava aquela expectativa de saber finalmente o que estava dentro daqueles papéis de embrulho que durante tantos dias me tinham tentado. Apesar de eu nunca ceder à tentação de apalpar ou mesmo abrir uma pontinha do presente para descobrir do que se tratava 😀 Adorava em especial receber jogos de tabuleiro e livros (claro! e recebia muitas vezes), mas a felicidade maior advinha de ser uma época de família, de convívio e de aconchego.

 

Com o tempo, o natal foi perdendo magia. A culpa não foi dele, eu é que cresci. Continuei a gostar das ideias base da época, mas assim que me vi em adulta comecei a sentir a pressão das prendas de natal, do TER de as comprar não porque se faz gosto em oferecer mas porque parece bem, ou pareceria mal a alguém se não recebesse uma prenda minha. E esta pressão social é difícil de abandonar, menos agora com a crise.

 

Este ano, pelos motivos que devem imaginar, o natal vai ter um sabor agridoce. Nesta altura do ano, já costumava ter escolhido o livro que ia oferecer ao meu pai e, normalmente, era um romance histórico. Como alguém me sugeriu, e bem, vou tentar passar essa tradição para o meu pequerrucho, esperando, como qualquer pai ou mãe leitores, que um dia venham a ter o mesmo amor que nós pelos livros. Apesar do meu estado de espírito um pouco desmoralizado com a época, desejo a todos um feliz natal. Que passem muitos e bons ao lado dos vossos entes queridos.

 

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.