Das Palavras às Imagens (16)

Confesso que não aguardei pela estreia de “O Hobbit – Uma Viagem Inesperada” com tanta ansiedade como aconteceu com a trilogia “O Senhor dos Anéis” (bem, pelo menos com o 2.º e 3.º filmes, já que quando estreou o primeiro ainda nem tinha ouvido falar de Tolkien). Isto deveu-se a circunstâncias da vida pessoal, que me fizeram carregar baterias noutros sentidos, mas também porque apesar de gostar muito de toda a obra de Tolkien, o tom mais infantil de “O Hobbit” não me faz gostar tanto como de outros livros do autor. Ainda assim, é o regresso à Terra Média e por isso não podia deixar de ver o filme à primeira oportunidade.

 

 

E pronto, assim que apareceram as primeiras imagens e a música do Shire vieram-me as lágrimas aos olhos. Junte-se o meu estado particularmente sensível à emoção de regressar a histórias que tanto marcaram a minha vida como leitora e dá-se o inevitável. A verdade é que nem dei por passarem quase 3 horas e só me lembrei que havia um mundo para além da Terra Média no intervalo. O meu maior receio para este filme era que se arrastasse, que tivesse muita palha, devido à decisão de fazer “O Hobbit” em três filmes, mas, e apesar de alguns momentos mais mortos ou que achei que se podiam ter evitado, a verdade é que, como grande fã de toda esta mitologia, adorei. 

 

Por onde começar? Para já, a história do filme não segue apenas os acontecimentos presentes no livro. Peter Jackson e companhia decidiram ir para além do tom juvenil do livro (apesar de continuar a ser mais juvenil do que “O Senhor dos Anéis”) e incluir acontecimentos relatados nos apêndices e outras fontes da obra de Tolkien. Por exemplo, em “O Hobbit” Gandalf desaparece amiúde, mas o leitor nunca sabe para onde vai nem o que vai fazer – e a bem da verdade, para quem lê pouco interessa. Mas aqui acompanhamos as preocupações do feiticeiro com o aparecimento de uma força negra em Dol Guldur, e que nos apercebemos ser Sauron, antes de ter rumado a Mordor. Temos também a presença de Radagast, o Castanho, apenas referido de passagem no livro, mas aqui com um papel mais importante. Estas e outras adições ajudam a expandir a história e retiram um pouco o foco da demanda que Tolkien nos deu a conhecer em “O Hobbit”: a tentativa de reconquista da Montanha Solitária ao dragão Smaug, que a ocupou expulsando os anões. Na verdade, este primeiro filme pareceu-me muito mais focado na história de Thorin Oakenshield, o príncipe exilado dos anões, e no seu desejo de reconquistar Erebor (sim, Erebor, em vez do “Eriador” que quem fez as legendas do filme escreveu SEMPRE que alguém dizia Erebor – altamente irritante). Bilbo tem uma presença mais morna na primeira parte do filme, só ganhando relevância na parte final. 

 

 

Quanto aos atores: impossível não destacar o soberbo Ian McKellen, mas também gostei muito do Richard Armitage no papel de Thorin. Já o conhecia de outras andanças (North and South) e sabia que era bom ator, por isso fiquei contente por confirmar que confere uma profundidade e interesse consideráveis a uma personagem que no livro não me cativou por aí além. Martin Freeman também está muito bem e parece um típico hobbit. Dos anões, só dois ou três têm maior destaque, mas a maior parte funciona como uma espécie de “bloco”. Não me fez muita impressão, porque seria preciso muito tempo para aprofundar mais as personalidades de tantos anões, um a um. Não posso deixar de referir o “regresso” de Gollum, uma personagem incrível. Bem interpretado por Andy Serkis e irrepreensível o CGI.

 

Gostei das pontes feitas com “O Senhor dos Anéis”: não só o início, que vai buscar o dia da “Long Expected Party”, mas também alguns momentos de Gandalf que fazem lembrar outros da trilogia original. De resto, nota para o facto de ter ido ver a versão com 48 frames per second (o dobro do normal) em 3D. Achei a imagem mais nítida, apesar de me ter feito alguma impressão nas cenas mais rápidas, porque parecia que a imagem estava acelerada. Mas nada que tenha estragado particularmente o meu visionamento do filme.

 

 

Ah, já me esquecia de falar sobre o visual magnífico do filme. Adorei tudo, desde as paisagens fantásticas da Nova Zelândia ao CGI, do qual me recordo particularmente do interior da Montanha Solitária mostrado no início do filme. E ainda a banda sonora de Howard Shore, a ir buscar melodias já nossas conhecidas da trilogia original, com novas adições das quais gostei particularmente do tema dominante dos anões.

 

De um modo geral, acho que o filme tem algumas falhas aqui e ali, mas penso que vai agradar aos fãs de Tolkien e mesmo a quem não é particularmente fã dos livros. Acima de tudo, pareceram-me quase 3 horas super bem gastas 😉

 

My dear Frodo, you asked me once if I had told you everything there was to know about my adventures. Well, I can honestly say I’ve told you the truth, I may not have told you all of it…

 

The Hobbit: An Unexpected Journey (2012) on IMDb

 

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.