É possível dizer-se que um livro não presta ou que não se vai gostar dele sem sequer o ler?
Por princípio, diria que não. Gosto de falar com conhecimento de causa e por isso sempre achei que nada melhor que ler um livro para ter uma opinião fundamentada a seu respeito. E isso implicava não só ler um livro como terminá-lo. Em relação a terminar um livro, já falei aqui da mudança na minha opinião; em jeito de resumo, já lá vai o tempo em que achava que tinha de terminar todo e qualquer livro que começasse a ler. Mas e achar, à partida, que determinado livro não tem qualquer hipótese de nos satisfazer como leitores?
Vem isto tudo a propósito do enorme sucesso que o livro 50 Shades of Grey (As Cinquenta Sombras de Grey, em português), de E.L. James, tem feito por esse mundo fora. Portugal não é exceção: assim de repente está em primeiro lugar no Top de Ficção da Wook e o mesmo se passa na FNAC Online, e o livro já foi publicado em Julho. O sucesso tem sido de tal forma que a editora em Portugal – Lua de Papel – já anunciou o lançamento do segundo volume para o início do próximo mês; não duvido muito que o último livro da trilogia seja lançado também em breve. Para os leitores mais desatentos, estamos a falar de livros que se focam essencialmente na relação entre uma jovem estudante universitária e um homem rico e poderoso, contendo o livro descrições eróticas explícitas, que envolvem elementos de sado-masoquismo e dominância/submissão. E muito provavelmente vem uma adaptação cinematográfica a caminho.
Se quando comecei a ouvir falar deste livro tive uma ligeira curiosidade em lê-lo, ela depressa se desvaneceu. Nas várias opiniões que li, destacavam-se invariavelmente as ideias que o livro transmite acerca da submissão da mulher e a escrita pobre e repetitiva. Neste momento, não tenho curiosidade absolutamente nenhuma em ler este livro e tenho 99,9% de certeza que não iria gostar e iria dar o meu tempo como perdido. Nada contra quem leu e gostou, como é óbvio, mas sinceramente o pressuposto não me cativa.
Esta conclusão levou-me a refletir na forma como tenho vindo a encarar a leitura ao longo dos últimos anos. Já houve uma altura em que lia praticamente qualquer coisa que me aparecesse à frente. Se um livro fizesse muito sucesso, era quase certo que o ia ler. Hoje em dia, isso já não acontece. Penso que os anos que levo de ler tanta coisa variada ajudam-me, nos dias que correm, a conseguir filtrar melhor aquilo que me *parece* ter potencial para agradar. Obviamente, ainda vou dando alguns passos em falso e continuo a gostar de experimentar coisas diferentes, a fugir da minha zona de conforto, mas noto que estou um pouco mais seletiva.
E vocês, têm preconceitos com livros ou géneros em concreto?