Eu adoro a lista dos 10 Direitos Inalienáveis do Leitor, que Daniel Pennac partilhou no seu livro “Como um Romance”, e gosto de todos eles, mas queria falar um pouco sobre o 3.º, o direito de não acabar um livro.
Das centenas de livros que comecei a ler, penso que se contam pelos dedos de uma mão aqueles cuja leitura não terminei. É certo que houve aqueles que deram mais luta, outros que se leram quase num ápice, e dentro destas duas categorias, livros que amei, odiei ou gostei assim-assim. Julgo que sempre senti uma espécie de dever ou obrigação de terminar um livro que comecei, fosse porque tinha investido o meu tempo e dinheiro, fosse porque achava que o autor merecia que lhe desse uma oportunidade, para não correr o risco de o livro melhorar muito na parte final e eu acabar por nunca “presenciar” essa evolução. O blogue foi mais uma motivação para terminar o que começava, porque continuo a achar que uma opinião será sempre mais bem fundamentada quando o livro é lido na sua totalidade.
Até que ultimamente me apercebi de uma coisa que deve ser óbvia para muita gente: o nosso tempo é finito e os livros potencialmente interessantes não param de crescer. Não me posso dar ao luxo de gastar o meu tempo com livros que não me trazem valor acrescentado, que me aborrecem de morte e que não me dão aquilo que procuro nos livros, que será diferente de leitor para leitor, mas válido em qualquer dos casos. Assim, o melhor a fazer é, das duas uma: ou voltar a colocá-lo na prateleira e aguardar por uma altura melhor ou fazer com que o livro chegue a alguém que o possa verdadeiramente apreciar, dando/vendendo o livro a alguém ou doando o exemplar à biblioteca. Não é uma tarefa fácil para quem, como eu, viveu tanto tempo a achar que tinha de acabar de ler tudo o que começava, desse por onde desse. O último livro que deixei a meio continuo a pairar à minha volta, como um fantasma. A seu tempo, os remorsos irão embora.
A mensagem mais importante: seja qual for o motivo por que leem, apreciem cada momento e não gastem o vosso tempo com aquilo que não vos faz feliz.