Leitor Convidado (8)

Literatura Young Adult

 

Young adult (YA) ou jovem adulto: expressão que no mundo literário significa, grosseiramente, indivíduo entre os 13 e os 21 anos de idade – faixa etária à qual já não pertenço há alguns anitos. Então e porque é que as minhas estantes continuam a encher-se de literatura do género? Razão número 1: porque os dramas que assolam a malta mais jovem são entretenimento garantido; razão número 2: porque a esperança é a última a morrer e eu acredito sempre que no meio de tanto livro do género vou encontrar mais uma pérola; razão número 3: porque quando eu era adolescente os meus dias limitavam-se a ir de casa para a escola e vice-versa, e é interessante ler sobre o que perdi por nunca me ter cruzado com uma criatura sobrenatural, transposto um círculo de cogumelos no limiar da floresta, ou despertado na minha mente um poder paranormal de qualquer espécie. (Sim, sim, parte da número 3 é brincadeira, mas não vou confessar qual.)

 

(imagem daqui)

 

Literatura young adult para principiantes, ou de onde vem a má fama da coisa: o que por norma caracteriza este género é o facto de ter um adolescente como protagonista, um adolescente que pode estar rodeado de vários outros, todos eles indivíduos com as hormonas aos saltos, capazes de dramatizar tudo e mais alguma coisa, e que estão quase sempre envolvidos em triângulos (ou quadrados) amorosos, para os quais, muito sinceramente, esta leitora já não tem a mínima paciência. O sujeito amoroso é sempre muito misterioso e pouco sociável, o cenário/mundo em que este pessoal todo se insere não pode ser muito complexo sob o risco do jovem leitor desistir da leitura (ainda que isto seja difícil de acreditar dado o estrondoso sucesso da série Harry Potter), e no entanto, o problema que vai atazanar a vida do protagonista pode sê-lo, pois tem de apelar ao leitor, de tal modo que ele se identifique o mais possível com a personagem. Progenitores ou outro tipo de guardião legal: falecidos ou ausentes, se faz favor e obrigada – não pode haver muitas regras na vida de um herói YA, ou horários para chegar a casa, e muito menos castigos por incumprimento de ambos, quer dizer, ele tem mais que fazer; e claro, tem de haver pelo menos um melhor amigo idiota/chato que tem sempre algo de inútil a acrescentar de preferência quando a situação é bicuda.

 

E nem é assim tão mau quando se lê algo com estas características pela primeira, segunda, e até terceira vez, mas sem dúvida que muito mais do que isso já é caso para dizer, chega. Infelizmente, o boom recente do género YA ignora este meu apelo, e continua a bombardear o mercado com livros que cada vez mais se parecem uns com os outros. Não deve ser por isso difícil de confiar na minha palavra quando admito que já li mais livros young adult que me desiludiram ou que simplesmente não foram memoráveis por serem mais do mesmo, do que aqueles que entraram para o top dos meus favoritos exactamente por fugirem aos clichés ou por lhes darem um novo fôlego de alguma maneira, mas atenção que quando isto acontece, e porque tal é uma ocorrência rara, o júbilo é a dobrar, e a minha confiança no género volta aos píncaros. (Nem que com o livro YA seguinte caía por ali abaixo aos trambolhões.)

 

Perfeitos exemplos disto: The Goose Girl de Shannon Hale e The Hollow Kingdom de Clare B. Dunkle (alerta pérolas!), dois livros que me fizeram parar tudo o que tinha para fazer e lê-los como se não houvesse amanhã, e ajuda imenso que os meus subgéneros preferidos sejam a fantasia e os fairy tale retold, porque é onde ambos os títulos estão inseridos. Mais dois exemplos, desta vez bem recentes, Howl’s Moving Castle e Castle in the Air dessa diva da fantasia para crianças, adolescentes, jovens adultos, adultos, ou resumidamente, para toda a gente que possua um coração, Diana Wynne Jones. Ela é (ou melhor, era) genial, cómica e uma contadora de histórias nata. Ler estes livros transportou-me para aquelas tardes em criança em que via animação atrás de animação da Disney – bons tempos.

 

 (imagem daqui)

 

Um exemplo de YA contemporâneo que também li há pouco tempo e que adorei foi I Am The Messenger de Markus Zusak. Nunca tinha lido algo remotamente parecido com o que passa neste livro, e só posso recomendar a leitores de qualquer idade.

 

Para o drama e a choradeira: Visto do Céu de Alice Sebold, e Se Eu Ficar de Gayle Forman. O primeiro deu-me cabo do juízo porque gira em volta de um crime arrepiante; já o segundo, por comparação, é mais leve, mas também tem os seus momentos chocantes. No campo do paranormal é mais difícil encontrar algo que me agrade, talvez porque me parece ser o subgénero mais batido de todos, ainda assim tenho os meus preferidos: The Body Finder de Kimberly Derting, um thriller que envolve assassínios e uma heroína que é das minhas preferidas dentro do género; Criaturas Maravilhosas da dupla Kami Garcia e Margaret Stohl, gosto bastante da escrita deste e da complexidade da história, e ainda Anjo Mecânico de Cassandra Clare, que tem como cenário a Londres da Era Vitoriana que eu adoro.

 

E claro está, é obrigatório fazer referência a Juliet Marillier e aos seus trabalhos mais recentes, Danças na Floresta, O Segredo de Cibele, e Sangue-do-Coração, que sendo mais acessíveis do que a sua restante obra estão rotulados como young adult. Teria de dedicar um texto inteiro a cada um dos três para explicar tudo o que aprecio neles, mas como não é esse o propósito do presente post fico-me só pelo apelo: ler, os três, já! É por causa de todos os títulos a que fiz referência que continuo, e que vou continuar, a vasculhar entre este tipo de literatura, porque para mim eles são a prova de que há por aí autores que conseguem escrever para um público-alvo “mais jovem”, mas que consoante as preferências do leitor, e até a sua disposição mental (porque às vezes é preciso algo mais light para desanuviar de certas leituras mais exigentes), apelam a gente de qualquer idade.

 

Texto da autoria da Jen7waters, do blogue Cuidado com o Dálmata

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.