[Opinião] Julia Felix – Frescos de Pompeia, de Lívia Borges

Autor: Lívia Borges
Editora: Editorial Presença
Páginas: 504
ISBN: 9789722344463
Origem: Recebido para crítica

Sinopse: Julia Felix – Frescos de Pompeia é um romance histórico passado no século I da era cristã, que se desenrola ao longo de cerca de sessenta anos, sensivelmente entre os governos de Cláudio e de Trajano. A autora entretece com mestria os grandes acontecimentos históricos que então tiveram lugar com a história de vida da protagonista, Julia Felix, uma mulher singular, que nos apaixona desde logo pela sua beleza, inteligência e tenacidade. Com uma sólida fundamentação histórica, um enredo bem construído e ritmado e uma prosa cativante, esta obra está destinada ao sucesso junto do vasto público do romance histórico.

Opinião: Tendo em conta o interesse que tenho por Pompeia e pelos trágicos acontecimentos que lá tiveram lugar, foi impossível recusar a proposta que a escritora Lívia Borges me fez de opinar sobre o seu recente livro, cujo lançamento, sinceramente, me tinha passado despercebido. Deixo aqui, desde já, o meu agradecimento pela oportunidade.

Mas antes de mais, é importante notar que este livro não se centra no desaparecimento de Pompeia depois da erupção do Vesúvio; foca, sim, as gentes da cidade, as tradições, os costumes e a história de uma mulher que existiu na realidade, Julia Felix, de quem pouco se sabe, e que a autora utilizou como centro da sua narrativa, que decorre num período de cerca de 60 anos.

Julia nasce em 46 d.C, em Pompeia, no seio de uma família relativamente abastada. A mãe falece na sequência do parto e como o seu pai, Spurius, não deseja voltar a casar, Julia é imcumbida de dar ao pai o herdeiro que tanto deseja, que dê continuidade ao nome dos Galla e herde os seus bens, ajudando a resolver os problemas familiares surgidos na sequência da ambição desmedida de outros membros da família. É assim que vamos acompanhando a transição de menina para mulher de Julia, dos seus encontros com o amor, com a amizade e com o desgosto, num enredo que entrelaça o relato ficcionado da vida desta mulher com o recuperar da vida e das gentes de Pompeia e com as intrigas políticas, tão férteis na época.

Em primeiro lugar, fiquei positivamente impressionada pelo evidente trabalho de pesquisa subjacente a este livro. Como não sou perita na história do Império Romano ou na componente social do mesmo, foi óptimo agarrar neste livro e poder fazer uma das melhores coisas que os livros nos proporcionam: aprender. Portanto, considero a contextualização deste livro excelente e, nesse aspecto, totalmente recomendada.

Considero que as partes contextual e ficcional da história estão relativamente bem entrelaçadas, e Julia é uma personagem interessante e que cativa o leitor pela sua inteligência e independência. Também houve várias personagens secundárias das quais gostei, em particular da escrava celta e do protector de Julia. Gostei da escrita clara e competente da autora, que mostra estar muito à vontade dentro deste tema. Contudo, penso que o livro teria beneficiado da exclusão de alguns desenvolvimentos do enredo, que não adiantam muito a história e acabam por prejudicá-la em termos de dinamismo e fluidez da leitura. Por outro lado, e apesar de saber que o objectivo do livro não era esse, senti-me um pouco desiludida com a forma superficial como foi descrita a erupção do Vesúvio.

Resumindo, foi uma leitura que me agradou bastante. Penso que a autora tem alguma margem de progressão em termos de desenvolvimento de enredo, mas apresenta-se já bastante sólida no que respeita ao rigor dos conhecimentos contextuais. Gostei do que li e aguardo com expectativa obras futuras. 

Classificação: 3,5/5

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.