Autor: Chris Cleave
Título Original: Incendiary (2005)
Editora: ASA
Páginas: 240
ISBN: 9789724145808
Tradutor: Isabel Alves
Origem: Comprado
Opinião: Depois de ter adorado Pequena Abelha, do mesmo autor, não tive de ponderar muito a decisão de adquirir o outro livro que Chris Cleave tinha publicado em Portugal e que estava a um preço convidativo na última Feira do Livro de Lisboa.
Incendiário é narrado na primeira pessoa, por uma mulher que perdeu o marido e o filho num atentado terrorista em Londres. A narrativa assume caráter epistolar, numa longa carta que a protagonista, da qual nunca sabemos o nome, escreve para Osama bin Laden. Esta mulher não tem um nível de literacia muito elevado e sofre de perturbações psicológicas – ambos os aspetos se refletem na forma como a narrativa flui, num texto que não tem vírgulas e que, por vezes, tem um tom algo esquizofrénico. A história começa pouco antes do terrível atentado e segue a protagonista nos meses que se seguiram, mostrando as dificuldades que revela para lidar com o sucedido e que não são, de todo, amenizadas pelas pessoas que vai encontrando pelo caminho e pelas opções que toma.
Trata-se de um livro que pretende falar da tão famosa guerra contra o terrorismo da perspetiva das pessoas anónimas, que são normalmente as principais vítimas, e que aproveita para abordar algumas questões morais relacionadas com as diferenças entre classes. O que tinha notado em Pequena Abelha no que respeita à voz das personagens é aqui evidente: sentimos que a narradora é real, que os seus problemas são reais, e sem dúvida que está muito bem caracterizada. O problema aqui, pelo menos para mim, foi que simpatizei pouco com ela e, apesar dos óbvios distúrbios psicológicos, tive alguma dificuldade em compreender as suas opções. A forma peculiar como a história é narrada pode causar algumas dificuldades de adaptação no início, mas com o avançar das páginas habituei-me. Perto do final, confesso que já estava um pouco cansada do estilo.
De um modo geral, achei que se trata de uma história com muito potencial, que nem sempre é bem aproveitado; é um livro propício a levantar questões interessantes para reflexão, mas que conta com uma protagonista da qual não é fácil gostar e com um estilo de narrativa arriscado, que pode cansar o leitor. Apesar disso, foi uma leitura que me agradou. Como nota final, deixo a referência que o livro teve uma adaptação cinematográfica em 2008, com Michelle Williams e Ewan McGregor.
Classificação: 3/5 – Gostei