[Opinião] Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson

Autor: Richard Matheson
Título Original: I Am Legend (1954)
Editora: Impresa (Revista Visão)
Páginas: 179
ISBN: n.d.
Tradutor: Fernando Ribeiro e David Soares
Origem: Comprado

Sinopse: Neville é o último homem vivo à face da Terra. Uma bactéria transformou toda a Humanidade em vampiros e a vida de Neville converteu-se numa arrepiante luta pela sobrevivência: todos os dias tem de sair da protecção da sua casa à procura de comida, água, bebidas, medicamentos, mas tem de voltar ao seu refúgio antes de anoitecer. Qualquer descuido, qualquer erro fará com que caia nas garras dos mortos-vivos…

Opinião: Ora aqui está uma bela surpresa. Adquiri este livro com uma colecção que saiu com a revista Visão no ano passado e, como não gostei muito do filme de 2007, protagonizado por Will Smith, estava um pouco reticente em pegar no livro. Mas confirmou-se a regra: o livro é (quase) sempre melhor que o filme.

O enredo deste livro decorre num cenário pós-apocalíptico. Richard Matheson não perde muito tempo a contextualizar (pelo menos na parte inicial), mas facilmente percebemos que algo de muito errado se passou para que Robert Neville, a personagem que a história acompanha,viva isolado na sua casa, que é atacada, todas as noites, por um grupo de vampiros que desejam o seu sangue. Sem qualquer contacto humano há vários meses, Robert vagueia, durante o dia, pelas ruas abandonadas e cheias de recordações daquilo que um dia foi a civilização humana, em busca de alimentos e de objectos/instrumentos que facilitem a sua defesa – isto porque, assim que o sol se põe, uma série de vampiros rondam a sua casa e não o deixam em paz.

Robert acha, apesar de não ter a certeza, que é o último ser humano no mundo. Todos os outros morreram ou, pior, foram transformados em mortos-vivos, criaturas que abandonaram qualquer humanidade que algum dia tiveram. Mas, apesar de vários momentos de acção, trata-se de um livro muito mais introspectivo e reflectivo do que se poderia supor à primeira vista. Acompanhamos Robert em todo o seu desespero, pela situação actual e pelas recordações do passado, em momentos bons, ou momentos que deseja esquecer, e não deixamos de admirar a sua capacidade de resistência. E o próprio leitor não pode deixar de questionar-se sobre a condição da natureza humana, quando levada aos limites.

Para além do foco na evolução psicológica da personagem, este é também um livro com pendor científico, na medida em que, aos poucos, vamos tendo explicações sobre o que originou esta praga e conhecendo melhor as características físicas dos seres que martirizam a vida de Robert. Confesso que esta parte me interessou menos, em especial porque percebo muito pouco destes temas e a forma como a questão é exposta não facilitou muito a minha compreensão. Mas não é nada que impeça o desfrutar da história.

Na minha opinião, a grande mais-valia deste livro é a forma profunda e complexa com que a personagem principal é descrita. Os sentimentos de Robert são quase palpáveis, e apesar de nos ser apresentado no contexto de uma situação extrema, que não nos é fácil imaginar, a verdade é que nos sentimos lá, a lutar com ele. Torcemos pela sua sobrevivência e admiramos a forma como resiste, mas percebemos sempre que o que ali está é um ser humano, com todas as suas cores. Gostei da escrita de Robert Matheson, bastante envolvente sem ter demasiados floreados.

O final não foi totalmente do meu agrado, mas penso que acaba por ser o desfecho mais realista e adequado de uma história muito interessante. Esta edição, à semelhança da da Saída de Emergência (a tradução é a mesma) contém 3 contos no final, não relacionados com a história, que eu não li. Mas deixo aqui a nota que foi publicada recentemente uma colectânea de contos do autor, A Caixa, que fiquei curiosa por ler. 

Classificação: 4/5 – Gostei Bastante

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.