Autor: Kenzaburō Ōe
Título Original: Kojinteki na taiken (1964)
Editora: Biblioteca Sábado
Páginas: 177
ISBN: n.d.
Tradutor: Nuno Castro
Origem: Comprado
Opinião: Quis o acaso que tivesse incluído no meu desafio de Março um livro de cada um dos dois japoneses galardoados com o Prémio Nobel da Literatura até ao presente. Não apreciei particularmente o Terra de Neve, por isso tinha a esperança que este pudesse cativar-me um pouco mais, mas infelizmente parecem ter sido dois tiros ao lado.
Basta ler a sinopse acima para se perceber que estamos perante um livro com uma história dura, cujo desenvolvimento, dependendo da experiência de cada um, pode tornar a leitura mais ou menos suportável. A personagem principal, Bird, é um homem estranho. Professor universitário, está prestes a ser pai, mas aquilo que mais parece preocupá-lo é a perspectiva da concretização de um sonho antigo: viajar para África. Vive numa espécie de equilíbrio precário, devido à sua personalidade instável, e não poucas vezes refugiou-se no álcool para conseguir enfrentar os seus demónios. Quando sabe que a sua mulher deu à luz um bebé com uma hérnia cerebral, entra numa espiral de negação e culpa em relação ao pequeno ser, que o leva às profundezas mais negras da alma humana.
Se me tivesse ficado apenas pela leitura, sinceramente acho que não conseguia apontar um único motivo para dar o meu tempo por bem empregue. Não gostei nem um pouco de Bird, que, perante uma situação dramática se refugia no sexo extra-matrimonial e pouco convencional, que encara aquele pobre ser como um obstáculo à sua vida e aos seus planos e que só suscita ódio no leitor, pelas coisas que diz, pensa e faz. Mas depois decidi tentar perceber o que levou a que esta seja considerada uma das obras maiores do autor. A verdade é que se trata de uma história semi-autobiográfica, uma vez que, no ano anterior a ter escrito este livro, Kenzaburō Ōe tinha sido pai de uma criança que nasceu com uma hérnia cerebral, que teve consequências no seu normal desenvolvimento com problemas mentais. O livro foi, assim, uma forma de exorcizar demónios; e acho que deve ter sido necessária uma grande dose de coragem para o fazer. E, com este dado adicional, percebi que é suposto odiarmos esta personagem. Também percebi que quanto maior for o nosso envolvimento pessoal na história e as suposições sobre o que teríamos feito se algo assim nos acontecesse, provavelmente mais difícil será apreciar esta leitura.
É um livro negro, muito negro. Demasiado para o meu gosto pessoal e que me deixou, por assim dizer, de rastos quando terminei. Este género de livros é bom para nos fazer entrar em mundos diferentes, alternativos, para ajudar a abrir a mente e a, como dizem os ingleses, go out of the box. Esta não foi uma viagem que me tivesse deixado boas recordações; deixo a recomendação em aberto para quem ache que a consegue aguentar.
Classificação: 2/5 – OK