[Opinião] Inverno Russo, de Daphne Kalotay

Autor: Daphne Kalotay
Título Original: Russian Winter (2010)
Editora: Livros d’Hoje
Páginas: 476
ISBN: 9789722043533
Tradutor: Maria João Freire de Andrade
Origem: Comprado

Sinopse: Quando Nina Revskaya, uma antiga estrela do Ballet Bolshoi, decide vender em leilão a sua famosa colecção de jóias, acredita ter por fim feito correr o pano sobre o seu passado. Em vez disso, a antiga bailarina encontra-se subjugada pelas memórias da sua terra natal e dos acontecimentos, simultaneamente gloriosos e comoventes, que mudaram o rumo da sua vida há meio século. Foi na Rússia que descobriu a magia do teatro, que se apaixonou pelo poeta Viktor Elsin, que ela e os seus amigos mais queridos – Gersh, um compositor brilhante, e a bela Vera, a sua melhor amiga – se tornaram vítimas da agressão estalinista. E foi na Rússia, que uma terrível descoberta conduziu a um acto fatal de traição – e a uma fuga engenhosa que conduziu Nina para o Ocidente, e por fim até Boston. Nina guardou os seus segredos durante metade da sua vida. Mas duas pessoas não irão deixar o passado repousar: Drew Brooks, uma curiosa e jovem assistente de uma casa leiloeira em Boston; e Grigori Solodin, um professor de russo que acredita que um único conjunto de jóias pode conter o segredo para o seu passado ambíguo. Juntos estes companheiros improváveis começam a desvendar o mistério que envolve uma carta de amor, um poema e um colar de proveniência desconhecida, colocando em acção uma série de revelações que irão alterar a vida de todos.

Opinião: Este foi um daqueles livros que me chamaram a atenção pela capa, que acho belíssima. Juntando isso à sinopse, pareceu-me ter todos os ingredientes para se poder tornar uma boa leitura. Felizmente, o meu instinto estava certo.

Inverno Russo atravessa mais do que um tempo ou local. Inicia-se em Boston, já no século XXI, cidade onde Nina Revskaya passa os últimos anos da sua vida. Outrora uma bailarina russa muito famosa, Nina vive quase isolada do mundo, assolada pelas recordações. A decisão de leiloar as suas valiosas jóias para angariar fundos para a companhia de bailado local é o acontecimento que dá o mote que traz de volta as recordações do passado, mais vívidas do que nunca, fazendo com que o leitor viaje no tempo até à Rússia comunista pós-Guerra, com todas as suas repressões e vicissitudes.

Ao mesmo tempo que acompanhamos a vida passada e presente de Nina, outras personagens vão desfilando pelas páginas deste livro: Drew Brooks, encarregue da organização do evento onde as jóias de Nina serão leiloadas, ou Grigori Solodin, um homem de meia-idade, também ele russo de origem mas ainda à procura da sua verdadeira identidade, cuja vida adivinhamos estar entrelaçada com a de Nina. O passado da bailarina está também repleta de personagens ricas e interessantes, como o seu marido, o poeta Viktor Elsin, e os amigos de ambos, Gersh e Vera.

A estrutura deste livro é bastante semelhante ao que encontrei nos livros da Kate Morton: sabemos que existe um segredo, um acontecimento que influenciou decisivamente a vida das personagens principais, e a história vai-se desenrolando alternadamente entre presente e passado, rumo à revelação final. Confesso que este método de contar histórias me agrada particularmente, em especial se for bem escrito e desenvolvido. Acho que a estreante Daphne Kalotay consegue fazê-lo com sucesso, num livro escrito de forma bastante elegante e adequada e que revela uma pesquisa muito bem feita no que concerne ao período histórico em que parte do enredo se desenvolve. O único senão foi que consegui descobrir demasiado cedo o segredo que referi, mas isso não impediu que fosse agradável vê-lo desvendado e conhecer os seus contornos.

Não me lembro se já tinha lido algum livro cujo cenário fosse a Rússia comunista do pós-Guerra, mas posso afirmar que a autora consegue aqui um retrato muito real deste país e época, tornando-se fácil perceber as dificuldades e a repressão a que o povo era sujeito. Muito interessantes também são os elementos que dizem respeito ao bailado propriamente dito; achei curiosa a coincidência de, pouco tempo depois de ter visto o filme Cisne Negro, ter pegado num livro onde a personagem principal também se chamasse Nina, fosse bailarina, e dançasse O Lago dos Cisnes. Percebo pouco de bailado, mas o livro consegue fazer-nos perceber o nível de esforço e dedicação necessários para se ser uma bailarina de topo.

É um livro que requer algum tempo e atenção, por exigir ser lido e absorvido lentamente e por ter um razoável manancial de informação interessante. Diria que esta escritora tem aqui uma estreia auspiciosa e fico, por isso, muito curiosa por ler futuros livros de sua autoria. 

Classificação: 4/5 – Gostei Bastante

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.