Autor: Gabriel García Márquez
Título Original: Cien Años de Soledad (1967)
Editora: Dom Quixote
Páginas: 328
ISBN: 9789722000314
Tradutor: Margarida Santiago
Origem: Comprado
A fabulosa aventura da família Buendía-Iguarán com os seus milagres, fantasias, obsessões, tragédias, incestos, adultérios, rebeldias, descobertas e condenações são a representação ao mesmo tempo do mito e da história, da tragédia e do amor do mundo inteiro.
Opinião: Da minha prateleira, Cem Anos de Solidão era, provavelmente, o livro por ler que tinha estado mais vezes na calha para ser lido mas que continuava com as páginas por virar. Estive várias vezes para o começar a ler, mas por uma ou outra razão acabou por ir vendo a sua leitura adiada, na maioria das vezes por achar que ainda não tinha chegado a altura certa para o fazer. Foi desta.
É uma história muito difícil de resumir, tantas são as personagens, as situações, e a quantidade de informação que o livro contém. Basicamente, trata-se da história de várias gerações de uma família marcada pelas características particulares dos seus membros que, apesar da estranheza que as distingue, acabam por ser ir repetindo ao longo dos anos – com particular destaque para a solidão e a forma estranha de amar. Aconselharam-me a ir para este livro com uma árvore genealógica ao lado, uma vez que as personagens são muitas e os nomes de várias delas repetem-se; foi de grande valia e só posso aconselhar que façam o mesmo apesar dos possíveis spoilers se olharmos para a árvore completa antes de chegarmos à parte da história que fala de determinadas personagens.
A primeira geração família Buendía, constituída pelo casal José Arcadio Buendía e Úrsula Iguáran, ajuda a fundar uma aldeia fictícia, Macondo, situada algures na América Latina. À medida que vamos avançando no livro, as várias gerações desta família vão desfilando perante os nossos olhos, num sem-fim de situações que variam entre o estranho, o caricato e o sobrenatural. Apesar das diferentes personalidades, todas estas personagens são, em maior ou menor grau, marcadas pela solidão. Como pano de fundo, não raras vezes temos as guerras e os conflitos a pontuar a história, naquilo que parece ser uma alusão às convulsões político-sociais da terra natal do escritor, a Colômbia.
Gostei muito da escrita de García Márquez e da imaginação que o autor revela. Já tinha tido oportunidade de ver um pouco do que era capaz em Crónica de uma Morte Anunciada, apesar de este ser um livro muito diferente em vários aspectos, começando no tom e terminado na ambição da própria história. O que mais me cativou neste livro foram, sem dúvida, as pequenas particularidades das personagens e os eventos mágicos que povoam o enredo, sendo estes últimos característica marcante do famoso Realismo Mágico. Fiquei, por assim dizer, completamente agarrada ao livro mais ou menos até chegar ao meio. Depois disso, comecei a ficar um pouco cansada. Foi um livro que demorou mais a ler do que o costume, o que foi propositado da minha parte porque queria apreciar todos os detalhes e imergir-me devidamente na história. Mas, a partir de certo ponto, perdi o foco devido à enorme profusão de personagens e acontecimentos que praticamente não nos deixam respirar. Não diria que o livro se torna confuso ou sequer que a escrita é demasiado complexa, porque se estivermos concentrados tudo encaixa; diria antes que a repetição de situações que por vezes parecem não levar a lado nenhum e a “falta de ar” foi o que fez com que o prazer com que comecei a ler este livro não se tivesse mantido aos níveis do início. Apesar de ter gostado muito da forma como termina.
A juntar a isto, não simpatizei verdadeiramente com nenhuma personagem para além de Úrsula. Isto teve certamente a ver com o facto de não me ter identificado com elas, o que é normal devido à forma como o autor as desenvolve. É uma questão pessoal, mas tendo a sentir-me ligada a livros que me disponibilizam uma certa “ponte” emocional com as personagens ou enredo, algo que, neste caso, para mim não funcionou muito bem. Por fim, nunca me cheguei a interessar realmente pelas questões políticas retratadas no livro, uma vez que estava mais interessada no destino da família Buendía propriamente dita.
Percebo porque este livro é especial para tanta gente e porque é considerado um dos melhores de sempre de escritores sul-americanos: extremamente bem-escrito e com uma história original. Pessoalmente, talvez tenha partido para esta leitura com as expectativas demasiado elevadas; a verdade é que gostei, mas não adorei como pensei que pudesse acontecer.
Classificação: 3,5/5