Autor: Michel Houellebecq
Título Original: La Possibilité d’une Île (2005)
Editora: Dom Quixote
Páginas: 393
ISBN: 9722030051
Tradutor: Isabel St. Aubyn
Origem: Comprado
Temas filosóficos, sociais, políticos e científicos, clonagem e sexo, juventude e velhice, violência e desejo, são aqui abordados. Toda a força do pensamento de Houellebecq se revela nos relatos de Daniel1, Daniel24 e Daniel25 que, separados por dois mil anos, se cruzam numa trama onde as ideias põem o dedo na ferida.
Opinião: Acredito que quando partimos para uma leitura o nosso estado de espírito, assim como a vontade de conhecer aquela obra/autor, seja das coisas mais importantes para que consigamos ler com vontade e interesse.
Por muito que um livro seja interessante, e que nos possa vir a marcar, tem de existir uma “chama” entre o leitor e a própria obra para que a leitura da mesma flua naturalmente e não forçada. Para isso, nós, como leitores, temos de estar preparados para aquilo que vamos encontrar nas suas páginas. Ou pelo menos, de mente aberta, livres de preconceitos e com predisposição para entrarmos num mundo que, esperamos, traga algo de novo e agradável.
Isto tudo, para dizer que A Possibilidade de uma Ilha foi daqueles livros que nos aparece em má altura, naquele tempo em que não estamos dispostos a entrar no universo com que o autor nos presenteia. Ainda não percebi bem quais eram as expectativas, e acreditem, eram enormes, que eu tinha para este livro, mas ele “encontrou-me” numa altura da minha vida em que não condizia para estar a dedicar o meu tempo a ele. Aliás, ainda não percebi bem o efeito que este livro teve em mim, ao ponto de não conseguir pontuar…
Não me lembro de ter lido um livro tão cínico, com uma crítica tão mordaz e tão machista como este. Posso dizer que era cínico de tal forma que me irritou o quanto baste para não o conseguir ler até ao final. Tudo isso porque vivemos numa altura de pessimismos descarados, de tanta negatividade, de tanto cinismo, quer por parte das pessoas que nos governam, quer por parte das pessoas que se cruzam connosco nas ruas, que não tive muita pachorra para ler uma obra de dimensão tão negra e ácida. No fundo, provavelmente, até tenho que reconhecer algum génio nesta obra; ela retrata o mundo de uma forma tão cruel, mas de alguma forma, tão lúcida, que nos faz sentir vermos um retrato de algo que não queríamos que seja divulgado.
A história tem tudo para ser interessante, conhecemos Daniel, um humorista de sucesso, politicamente incorrecto, que caminha para o seu final de carreira, assim como Daniel 24 e Daniel 25, que são dois dos seus clones que procuram falar do passado, ou melhor da sua origem, enquanto devaneiam em questões filosóficas e em viver num mundo e numa sociedade irreconhecível.
Acredito que lido noutra altura e com outra disposição, seja uma obra interessante, mas, de facto, neste momento, não estava preparado, nem com disposição, para lidar com obras cínicas, pois para isso temos os telejornais, os debates políticos, o orçamento que passa ou não, o ódio em todo o lado, a vida nas ruas, as pessoas que se queixam por tudo e por nada, etc, etc. Talvez um dia volte a ele. Ou ele me encontre noutro estado de espírito. – Ricardo