Autor: Karen White
Título Original: The Memory of Water (2008)
Editora: Porto Editora
Páginas: 384
ISBN: 9789720045096
Tradutor: Isabel Andrade
Origem: Recebido para crítica
Após dez anos de silêncio entre as duas irmãs, Marnie Maitland regressa à Carolina do Sul a pedido de Quinn, o seu ex-cunhado. O pequeno Gil voltou de um passeio de barco com a mãe profundamente perturbado e recusa-se a falar. Para ajudar o sobrinho, Marnie será obrigada a reabrir velhas feridas e trazer à superfície memórias inquietantes e há muito enterradas. E terá de confrontar Diana… Mas serão elas capazes de exorcizar os fantasmas que as atormentam? Serão capazes de lidar com as suas próprias fraquezas?
Opinião: Após dez anos afastada da sua terra natal, numa zona costeira da Carolina do Sul, Marnie regressa a pedido do pai do seu sobrinho Gil. A criança não fala desde um acidente de barco com a mãe, Diana, e tendo em conta a experiência de Marnie com crianças, Quinn pede-lhe ajuda. Ao regressar, Marnie pensa cada vez mais no que a fez partir: também um acidente de barco, que a envolveu a ela, à irmã e à mãe, e que tirou a vida a esta última. Diana sofre, tal como a mãe, da doença bipolar, e o seu comportamento errático é um problema cada vez maior, apesar das pinturas maravilhosas que consegue fazer. Marnie mal se lembra do acidente, mas o seu regresso irá desenterrar velhas feridas entre as duas irmãs, memórias trazidas pela água e um segredo inesperado.
A história é contada na perspectiva de quatro personagens: Marnie, Diana, Quinn e Gil. Acho que a autora fez um bom trabalho em diferenciá-las, mas por vezes a constante mudança de pontos de vista torna-se exigente em termos de concentração na história.
Identifiquei-me bastante com a voz da autora. Gostei da forma como escreve, das palavras que deixa por dizer, de todo o tom dramático, mas ainda com a luz da esperança ao fundo do túnel, que imprime ao livro. Foi sem dúvida o aspecto que achei mais bem conseguido. O enredo também é interessante, tocando em pontos como a dificuldade de recuperação de traumas, as marcas que os acontecimentos da infância nos deixam ou os problemas de comunicação familiar. Outro aspecto que atravessa toda a história é o mar, a água, e toda a importância e simbologia que assume para as personagens principais.
Karen White apresenta-nos um leque de personagens bastante marcadas pelos fantasmas do passado, tão magoadas e deprimidas que a sua caracterização peca pelo exagero, tornando-a menos verosímil. Isto é apenas atenuado pelo existência da “maldição” da família Maitland (ou seja, a doença bipolar que afecta vários membros da família), e que ajuda a explicar alguns comportamentos; no entanto, a sensação geral com que fico é que as personagens acabam por parecer demasiado trágicas e isso não ajuda a aproximá-las do leitor. O grande segredo, presente desde o início da história, torna-se previsível a partir de determinado momento na história, o que faz com que o impacto final da sua revelação seja diminuído. Fica, pelos factores que mencionei, a sensação que a autora poderia ter trabalhado melhor as suas personagens e o desenrolar da história.
Posso dizer que fiquei com muita curiosidade para ler mais desta autora, cuja escrita achei acima da média. Apesar de alguma previsibilidade na história e da caracterização algo exagerada das personagens, foi ainda assim um livro que gostei de ler.
Classificação: 7/10 – Bom
Livro n.º 70 de 2010