Autores: Nuno Silveira Ramos e Pedro Silveira Ramos
Editora: Albatroz
Páginas: 176
ISBN: 9789720042996
Origem: Recebido para crítica
Mais de 30 anos depois, a publicação desta história ajuda-nos a compreender um período pouco explorado da nossa História e da nossa memória colectiva.
Opinião: Em 1978, um grupo de 6 jovens partiu de Angola a bordo de um barco à vela, sem motor, com apenas uma bússola e um rádio a pilhas para os ajudar a orientar-se naquela longa viagem. Apesar das perturbações políticas que se viviam na Angola pós-independência, e que ajudaram à não existência da vontade de criar raízes, foi o gosto pela aventura e pelo risco que impeliu estes jovens a empreender esta viagem.
Confesso que fiquei surpreendida pela qualidade do texto que, à priori, não esperei ser tão musical e bem elaborado. As palavras vão-nos embalando, tal como as águas embalaram este grupo de jovens há mais de 30 anos atrás, através desta autêntica aventura. O seu barco leva-nos, tal como a eles os levou, a viajar pela costa de África, no meio de uma série de vicissitudes que incluiu uma paragem algo atribulada em Monróvia, na Libéria. Tendo em conta a natureza da aventura relatada existe uma grande profusão de termos náuticos, pelo que o glossário no final do livro se revela extremamente útil para os leigos na matéria, como é o meu caso.
Uma das coisas que me ficou da leitura deste livro e que, se não for impressão minha, se encontra hoje mais amiúde: a camaradagem e a disponibilidade de ajudar estranhos que os heróis desta aventura encontraram não só nas suas paragens mas também antes e depois da viagem. Penso que hoje vivemos numa sociedade mais egoísta, mais virada para si própria, e também por isso este livro se torna num testemunho interessante. Outra coisa que gostei foi da contextualização da época histórica, que dá um vislumbre dos imensos problemas trazidos pela descolonização.
Tal como José Eduardo Agualusa refere no prefácio deste livro, “Tartan – As Velas da Liberdade lê-se de um só fôlego, como quem lê um bom romance de aventuras, porque queremos saber como foi e o que aconteceu a seguir“, com o bónus de não ser um livro de ficção mas o relato de um acontecimento verídico e que, até agora, desconhecia por completo. Gostei de embarcar nesta aventura.
Classificação: 7/10 – Bom