[Opinião] Os Objectos Chamam-nos, de Juan José Millás

Autor: Juan José Millás
Título Original: Los objectos nos llaman (2008)
Editora: Planeta
Páginas: 235
ISBN: 9789896570569
Tradutor: Luísa Diogo e Carlos Torres
Origem: Recebido para crítica

Sinopse: Juan José Millás actua neste livro como um mestre das distâncias curtas. Cada um destes textos, breves como um clarão, ilumina um segredo, revela um mistério, provoca uma pergunta. Todos, sob essa escrita rigorosa e veloz, escondem uma surpresa. Inimitável mistura de humor, pânico, ironia, nessa atmosfera entre realista e onírica que caracteriza a escrita de Millás. O misterioso espreita-nos ao virar da esquina, no interior de nós próprios. Mulheres grandes que sonham com homens diminutos. Manequins que transpiram. Frangos que vão do mercado para casa, mas que jamais aparecem na mesa. Mentiras que se transformam em realidades inexplicáveis. Fósforos velhos que iluminam salas antigas. Pequenos mal-entendidos que dão lugar a perguntas fundamentais. Delírios sensatos. Bom senso delirante… Este é o mundo de Juan José Millás.

Opinião: Juan José Millás é um consagrado escritor espanhol, que vê neste Os Objectos Chamam-nos publicada uma selecção dos seus melhores contos. O livro encontra-se dividido em duas partes: “As Origens” e “A Vida”, sendo que na primeira acompanhamos o crescimentos de várias personagens (por vezes repetidas de conto para conto?) e na segunda seguimos a sua vida em adultos. Contudo, como na maioria das vezes desconhecemos o nome dos protagonistas destas histórias, acabam por ser pequenos detalhes que nos permitem identificá-los como personagens encontradas anteriormente. A verdade é que, de um modo geral, o leitor é deixado à deriva no que a estas ligações diz respeito, uma vez que, no final de contas, o que o autor pretende é que o leitor experimente a vivência de situações incomuns e entre nestes mundos tão particulares.

Quando comecei a ler este livro, recordei-me de Pequenos Mistérios, de Bruce Holland Rogers, não só pela narrativa curta, mas também pelo surrealismo de algumas situações. Com o avançar da leitura, percebi que os dois autores possuem vozes diferentes: Juan José Millás dá muitas vezes um toque cómico às suas histórias, e garanto-vos que me ri a bom rir em várias delas.

Se tivesse de escolher o tema do livro, apesar dos seus contos tão diversos, talvez optasse por “a vida e a morte”, pois tanto uma como a outra são objecto de várias reflexões no meio do non-sense e do humor. Dificilmente se consegue parar de ler este livro: os contos ocupam duas, três páginas, na sua grande maioria, e apesar de não comporem nenhuma história em concreto, é grande a vontade de não sair destes pequenos mundos, tão únicos, criados pelo autor. É um livro que poderá ser lido de seguida, como eu fiz, ou pode-se ir lendo alguns contos avulsos no meio de outras leituras, para serem lentamente saboreados.

É justo dizer que adorei a “voz” de Juan José Millás e fiquei com imensa vontade de conhecer mais da sua obra. Pela minha pesquisa, o autor conta já com vários títulos publicados em Portugal, entre as editoras Temas & Debates, Quetzal, Presença e Planeta. Se procuram algo diferente, este livro é uma óptima escolha.

Classificação: 8/10 – Muito Bom

Livro n.º 12 de 2010

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.