Autor: Ursula K. Le Guin
Título Original: Lavinia (2008)
Editora: Editorial Presença
Páginas: 248
ISBN: 9789722342773
Tradutor: Maria do Rosário Monteiro
Origem: Recebido para crítica
Opinião: Ursula K. Le Guin é mais conhecida pelos seus trabalhos nos géneros de fantasia e ficção científica e este Lavínia, apesar de estar catalogado como fantasia (ganhou inclusivamente um Locus Award para Best Fantasy Novel em 2008) encaixa-se, na minha opinião, mais no romance histórico, incluindo alguns elementos mitológicos.
Lavínia tem como ponto de partida a famosa epopeia de Virgílio, a Eneida, e funciona como uma espécie de homenagem a uma personagem que a autora admira e considera pouco desenvolvida na obra original. Para resumir muito brevemente, a Eneida conta a história de Eneias, um troiano fugido da guerra de Tróia, e que depois de várias deambulações pelo Mediterrâneo, chega à actual Itália para se transformar no “pai” de todos os romanos. Este livro centra-se na personagem de Lavínia, que viria a tornar-se na segunda esposa de Eneias depois de este chegar à província do Lácio (acontecimentos narrados na segunda metade da Eneida). A autora escolheu um artifício literário para justificar esta “recontagem” da história de Lavínia, que consistiu no contacto entre o poeta, Virgílio, com a sua personagem, quando o espírito deste, que se encontra moribundo, viaja no tempo e percebe que Lavínia é muito mais do que aquilo que ele lhe dedicou no seu poema; este livro acaba, assim, por ser justificar-se pela própria vontade do poeta.
Apesar de não ter conhecer a obra original, é perceptível que a autora a conhece detalhadamente e que fez um grande trabalho de pesquisa para este livro. Os acontecimentos que presumo pertencerem originalmente à epopeia são descritos em grande pormenor, o que por um lado é notável pelo trabalho que implicou, mas por outro não contribuiu muito para me manter presa à história – todas as intrigas políticas e os combates são descritos quase até à exaustão e, sinceramente, isto fez com que o meu interesse pelo livro tivesse diminuído. E o livro até começa muito bem, com o enredo praticamente centrado em Lavínia, nos seus dilemas e na sua relação difícil com a mãe, mas quando se desvia para o relato dos acontecimentos narrados na Eneida, penso que perde grande parte do interesse porque o que me permitiu sentir-me ligada à história fica relegado para segundo plano. A sensação com que fico é que, para além de ter querido “recontar” em forma de prosa uma história que lhe é querida, a autora não se quis desviar muito da mesma.
É notória a habilidade de Ursula K. Le Guin no que à escrita diz respeito, e por isso fico com curiosidade para conhecer outros livros dela. Em algumas das opiniões que li de outros leitores, afirma-se que este não será o seu melhor livro. A minha expectativa é que isto se confirme.
Classificação: 6/10 – Interessante