[Opinião] Cinco de Outubro, de Lourenço Pereira Coutinho

Autor: Lourenço Pereira Coutinho
Editora: Sextante
Páginas: 280
ISBN: 9789896760106
Origem: Recebido para crítica

Sinopse: Junho de 1910: D. Manuel II enfrentava nova crise governamental, após a queda do ministério Veiga Beirão. Entretanto, revolucionários e carbonários organizavam reuniões desencontradas, para o derrube da monarquia. Cinco de Outubro acompanha os percursos dos principais protagonistas da época – D. Manuel II, Teixeira de Sousa, Afonso Costa, Machado Santos -, que se cruzam com personagens ficcionados, numa narrativa de intensidade crescente que culmina nos dias da revolução republicana: 3, 4 e 5 de Outubro.

Opinião: No ano em que se comemora o centenário da República, adivinham-se uma série de publicações relacionadas com o tema. Este “Cinco de Outubro” é da autoria de Lourenço Pereira Coutinho, licenciado em História e autor de outros livros dentro da temática (Fim d’Época, por exemplo), e cobre os acontecimentos que culminaram na implantação da República a 5 de Outubro de 1910, com especial incidência nos dias imediatamente anteriores. Está disponível nas livrarias a partir de hoje.

Apesar de o livro estar inserido na categoria de ficção, eu diria que é mais um relato histórico ficcionado pela introdução de algumas personagens imaginadas pelo autor. São descritas, em grande detalhe, várias das reuniões levadas a cabo pelos revolucionários, incluindo uma análise detalhada das motivações das principais figuras da Revolução e das suas acções.

Gostei do retrato do país do início do século XX e de conhecer de forma mais aprofundada os eventos que antecederam a implementação do regime actualmente existente no nosso país, depois de toda a instabilidade política que se viveu em Portugal ao longo do século passado. Lembro-me de estudar na escola este evento em particular, e de a ideia que me foi transmitida (ou, pelo menos, a que eu retive) foi a do heroísmo das pessoas que levaram a cabo esta revolução. A verdade é que, na altura (como hoje), a grande maioria das acções tomadas supostamente para o bem comum acabam por ser movidas por interesses pessoais, mais do que outra coisa qualquer. Os argumentos da separação do Estado e da Igreja, a vontade de promover a educação para todos e a implementação do voto universal foram apenas promessas que a 1.ª República fez, mas que não chegou a conseguir cumprir.

Este livro não pretende tomar partidos e olha factualmente para a sequência de acontecimentos, de uma forma imparcial, aspecto que me agradou. Apesar do prólogo, que explica um pouco da história da dualidade dos partidos após a implementação da Monarquia Constitucional em 1820, e os motivos de descontentamento face à Monarquia, gostaria de ter visto estes antecedentes mais bem explorados, apesar de admitir que muito provavelmente não era essa a intenção do autor. Considero ainda que teria sido benéfica a inclusão de um glossário, por forma a facilitar e ajudar o leitor menos familiarizado com as personagens incluídas no livro a situá-las mais facilmente e a perceber qual o seu papel nos acontecimentos narrados.

No final de contas, e como gosto de história, foi uma leitura que me agradou e que recomendo aos interessados pelo tema. 

Classificação: 7/10 – Bom

Livro n.º 14 de 2010

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.