[Opinião] Barbershop, de Júlio Conrado

Autor: Júlio Conrado
Editor: Editorial Presença
Páginas
: 240
ISBN
: 9789722342926
Origem: Recebido para crítica

Sinopse: Lisboa, Cascais e a ilha da Armona, em Olhão, delimitam o espaço geográfico em que decorre esta narrativa labiríntica protagonizada por uma pitoresca galeria de poetas, livreiros, críticos literários, barbeiros e viúvas, no tempo da nossa contemporaneidade. Num estilo sugestivo, deliciosamente irónico, o autor faz-nos participar, com gosto, nos quotidianos entrecruzados de F. F., o poeta taciturno eterno candidato ao Nobel da literatura; Diamantino Neto, o típico barbeiro de bairro que sonha com os louros da glória ou Rogélio Bordalo, um arrivista caçador de viúvas ricas, entre outras figuras. Gente conformada? Sim, mas não completamente. Dias pouco épicos, talvez felizes, os destas personagens, mas o amor, a avidez e a vingança entram também em cena, e o crime imperfeito acaba por deixar um rasto de tragédia no quintal sossegado.

Opinião: Nos 50 anos da Editorial Presença, nada como alargar o meu leque de conhecimentos na área dos autores. Já tinha ouvido falar de Júlio Conrado, mas nada me motivava a lê-lo… até que surgiu Barbershop. Ler esta obra permitiu-me perceber como a literatura nacional é verdadeiramente rica e, simultaneamente, reviver alguns traços queirosianos, o meu autor preferido.

A acção central da obra passa-se na vila de Cascale (Cascais), intervalando entre locais sumptuosos/chiques e mais bairristas/tradicionais. O elo transversal à obra é, claro está, a barbearia que lhe dá nome. É através da história desta e dos momentos lá passados que vamos conhecendo as personagens e percebendo os caminhos trilhados por cada uma delas. Neste mini-universo, desenham-se, a cada página, tricas e intrigas que dão cor ao livro e mantém o leitor interessado.

Barbershop congrega um pouco de tudo: romance, comédia, policial, mas sempre de forma tão fiável que a ficção podia tornar-se realidade. Acresce a tudo isto, um leque de personagens bastante trabalhadas, com problemas tão nossos conhecidos, que é impossível não se criar uma ligação com o leitor. Por outro lado, a escrita do autor, onde, por vezes, a voz do narrador se mistura com a voz das personagens, confere vivacidade à obra, como se as personagens partilhassem o seu íntimo somente com quem lê.

Esta obra revela-se um verdadeiro retrato social, a que está associada, como quase sempre, a crítica. Daí que, ao lermo-la, relembremos Eça de Queiroz e a sua sagacidade, apontando o dedo ao que estava errado. Neste livro, o autor opta por um estilo mais brincalhão, mas nem por isso deixa de dizer algumas verdades. E, nos tempos que correm, algumas bem precisam de ser ditas… O único senão da obra são alguns capítulos/parágrafos demasiado extensos e que nem sempre se revelam uma mais-valia para o desenrolar da acção. – Cristina

Classificação: 8/10 – Muito Bom

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.