Autor: Lev Tolstoi
Título Original: Анна Каренина (1878)
Editora: Relógio D’Água
Páginas: 832
ISBN: 9727089232
Tradutor: António Pescada
Origem: Comprado
Do Posfácio, de Vladimir Nabokov
Opinião: No âmbito de mais uma Leitura Conjunta do nosso fórum, dei início à leitura deste clássico da literatura russa e mundial, que tinha comprado na Feira do Livro Lisboa de 2008 por o ter encontrado a bom preço e depois de opiniões bastante favoráveis.
Um clássico é, por definição, um livro que sobreviveu ao teste do tempo pela sua qualidade intrínseca, e que continua a conquistar novas gerações de leitores. Este Anna Karénina é uma das obras mais conhecidas do famoso escritor russo Lev Tolstoi (1828-1910), também autor de Guerra e Paz, e foi a minha primeira incursão séria pela literatura russa clássica. E que desilusão.
Mas vamos por partes. O título do livro pode levar a pensar que a história de centra na personagem com o mesmo nome, mas a verdade é que não é assim. Apesar de a história de Anna, que se apaixona por outro homem que não o marido e abandona este último, ser bastante central, é apenas um dos fios condutores do enredo. Muitas outras personagens, das relações de Anna, têm o seu destaque, e o livro está longe de se centrar exclusivamente nas interacções entre personagens, porque contém variadas secções dedicadas à descrição da vida russa da segunda metade do século XIX, sempre com a dicotomia campo/cidade presente. Muitos outros temas são aflorados, tal como a política, arte, questões sociais, religiosas e filosóficas, etc.
Tentei arranjar melhor definição para a minha percepção sobre este livro, mas tenho de “roubar” uma definição da Aida do nosso fórum: “Em vez de ser uma história de amor que tinha como pano de fundo uma crítica à sociedade Russa, foi mais uma crítica à sociedade Russa que tinha como pano de fundo uma história de amor.” Quem, como eu, vai para este livro à espera de grandes emoções, pode esquecer. Parece-me que isso nunca foi o objectivo do autor.
Se não tivesse lido este livro no âmbito de uma Leitura Conjunta, é muito provável que o tivesse deixado a meio – e eu odeio deixar livros a meio. Não posso dizer que não me interesse pelas descrições da sociedade russa, até porque gosto imenso de história e a maioria das coisas que dizem respeito a sociedades de outros tempos cativam-me. Neste livro, na maior parte das vezes, achei estas descrições extremamente aborrecidas e óptimas para curar insónias. As partes que mais despertaram o meu interesse (e ainda assim, menos vezes do que seria desejável) foram as que incluíam o relacionamento entre as personagens principais. Quanto a estas, o que dizer? Inconstância é a palavra que primeiro me ocorre. Falando de Anna, nunca a consegui compreender… sempre cheia de dúvidas e incertezas, parece uma personagem sem rumo, muito pouco definida. Não é que ser “cinzento” seja mau, mas se, como no meu caso, o leitor não consegue encontrar “pontos de apoio”, coisas com que se identificar, torna-se difícil criar uma ligação emocional forte com o que está a ler. O que digo para Anna é válido para as restantes personagens: nunca me importei realmente com os seus problemas ou com o que lhes pudesse acontecer.
Não poderei dizer que Tolstoi não é um escritor acima da média, porque o é. O texto é pontuado por metáforas excelentes e por pequenos e deliciosos pedaços de prosa. Mas, para mim, a escrita não é tudo: se o enredo e as personagens não me cativarem, o mais certo é que o livro nunca venha a pertencer à minha galeria de favoritos.
Chegar ao fim de um livro aliviada pelo facto de o ter finalmente terminado nunca poderá ser um bom sinal. Ler deve ser um acto de prazer e não de obrigação… e esta foi, em 99% das vezes, o motivo pelo qual continuei a folhear as páginas deste livro. Independentemente de ser um clássico, amado por muitos, a mim não me cativou e muito dificilmente voltarei a pegar noutro livro deste autor.
Classficação: 5/10 – Razoável
O Guerra e Paz é considerado por muitos como um dos melhores clásscos de sempre, mas pelo que sei é gigante. Este também não lhe fica atrás em tamanho. Pela tua opinião, não me parece que alguma vez vá tocar nele. Já não me chamava muito a atenção, e agora menos ainda.
Bom fim de semana!
Esta é a beleza dos livros. A forma como cada um encara as mesmas obras é sempre diferente. Eu, pessoalmente, adorei este livro, mas concordo que, em grandes partes, o livro se torna aborrecido e maçudo. Tal como tu, não percebo a Anna Karenina, mas gostei particularmente de outras personagens (sobretudo um que vivia numa area mais campestre cujo nome não me recordo).
Estou com bastante curiosidade para ler Guerra e Paz.
É isto que os livros têm de bom! Suscitam sempre diferentes opiniões. 🙂
Anna Karénina é sem dúvida um enorme calhamaço e parti para a leitura deste livro com a expectativa que ele fosse mais centrado na vida da personagem de Anna. No entanto, não me desiludi no final. Tolstoi, a meu ver, apenas peca por debruçar-se demasiadamente na vertente campo versus cidade. Esta parte acaba por cansar o leitor.
Na minha opinião, está longe de ser razoável, mas sim um excelente livro.
As partes principais, o drama de Anna e a busca existencial de Levine são narradas sempre em paralelo e servem para revelar a sociedade russa do século XIX.
O humanismo dos personagens é talvez o ponto onde Tolstoi mais se eleva nesta narrativa. O bom e o mau, as interrogações que cada um faz a si próprio, as suas incertezas e os seus momentos de reflexão e o facto de não poderem fugir ao seu próprio destino.
Anna só poderia ter aquele fim e Levine, após a sua busca desenfreada do seu eu, descobre o seu caminho, vivendo em paz com a sua própria existência.
Uma história para ser absorvida lentamente.
Pois também eu concordo mais com os comentários daqui: o livro é genial, na minha perspectiva. Sim, as reflexões sociais por vezes são exageradas. Mas são também elas interessantes. Anna é uam personagem incómoda por não se deixar conhecer sempre. Oblonski é outra, um homem que me deixou entusiasmado. E o outro, o tal que de que a Cristina não se lembra do nome, tal como eu, é também muito curioso.
E um desfecho intrigante para Anna, não é verdade?
A beleza dos textos: suscitar reacções tão diferentes…
Talvez o problema esteja no facto de, a certa altura, a leitura ter começado a pesar. Nessas alturas o livro tem de ser posto de lado, porque a sua leitura passa a ser alvo de uma predisposição negativa e, por melhor que seja a obra(como é o caso), dificilmente resultará prazeirosa. Não há que ter vergonha de largar um livro a meio e acho que muitas vezes o problema de blogs como este(não quero dizer que seja o caso) é o de fazerem leituras galopantes para, no final do ano, mostrarem os numeros das leituras efectuadas e esses, são sempre impressionantes. Conclusão: impossivel um livro como o Anna Karénina levar cinco estrelas. À pessoa que fez a crítica aconselho a ler “A Sonata a Kreutzer” ou “A Morte de Ivan Illich”. Sinceramente custa-me imenso, como estudioso de literatura russa e de Tolstoi, ver uma obra como esta ser “assim” criticada…
Por favor, continuem a ler, isso sim é importante.
Caro(a) vick:
Li este livro durante 2 meses, por isso não me parece que a leitura tenha sido “galopante” e muito menos para mostrar número, até porque foi feita no âmbito de uma leitura conjunta do nosso fórum, cujo objectivo é analisar a obra em conjunto e tornar, por isso, a leitura mais rica.
Pessoalmente, não me custa ler uma opinião negativa sobre um livro do qual gosto bastante, desde que a mesma seja justificada e eu perceba os motivos da pessoa que a escreve. Nunca, em algum momento da minha opinião, eu ponho em causa a qualidade do livro. Limito-me apenas a falar sobre aquilo que dela achei. Não é por não ter gostado de um livro que o considero mau, nem considero excelente tudo aquilo que me dá prazer ler. Porque é disso que estamos aqui a falar: de gostos pessoais. Continua a ser difícil para algumas pessoas compreenderem que as opiniões presentes neste blog são subjectivas e portanto as 5 estrelas, razoável, representa a medida em que esta leitura ME satisfez. As notas destinam-se precisamente a isso, a quantificar o quanto gostámos de um livro. Faria sentido eu dar uma nota mais alta a este livro só porque faz parte do cânone e é um clássico admirado por muita gente? Não é da opinião dos outros que pretendo falar, mas única e exclusivamente da minha.
Célia M.
Pois, pessoalmente também não achei nada de especial. Dentro do tipo de livro e de história, prefiro mil vezes o nosso Eça de Queirós e, talvez num estilo ligeiramente diferente, o Júlio Dinis. Mas é um bom livro… 🙂
De Tolstoi já li ” A morte de Ivan Illich” e adorei. É um livro breve e para mim o ideal para começar a ler este autor.
Sobre este livro não posso criticar, um dia pegarei nele, mas nunca forçado, até porque ainda tenho uma visão “romântica” da coisa, os livros é que têm que vir ter comigo, quase todos os livros que fui “forçado” a ler, nunca me diverti do que os ooutros.
Penso que a leitura bastante descritiva poderá ser demasiada aborrecida em alguns momentos de ler, mas noutros, se conseguimos nos embalar na sua escrita poderá ser maravilhosa. Sou adepto de abandonar o livro e depois voltar a ele, um dia. Por exemplo, existem livros que abandonei 2/3 vezes e só depois de ele voltar até mim é que lhes dei o devido valor, quer seja pela positiva, quer pela negativa, porque já aconteceu o contrário, largar e não gostar dele depois .
Eu tomei a decisão no meu blog de “proibir” qualquer estrelinha ou outro tipo de classificação. Se os leitores querem saber a nossas opinião sobre determinada obra, então leiam a crítica toda. Não custa assim tanto, e ajuda a perceber muito melhor porque gostamos de a e não de b.
Rui
PS. A ver se também me junto à proxima leitura conjunta 🙂
Cara Célia M., a parte final da sua crítica é sintomática daquilo que eu quiz dizer, passo a citar: “Chegar ao fim de um livro aliviada pelo facto de o ter finalmente terminado nunca poderá ser um bom sinal. Ler deve ser um acto de prazer e não de obrigação… e esta foi, em 99% das vezes, o motivo pelo qual continuei a folhear as páginas deste livro.” Como é que é possivel ler 99% de um livro por obrigação? Ainda mais sendo este alvo de crítica num blog, ainda que com a atenuante de ser leitura conjunta. Então se ler deve ser um acto de prazer, tal como diz, porque continuou a ler? Obrigação? Desculpe mas não há argumento possivel perante isto.
Cumprimentos.
Caro vick,
Percebo que desconheça as regras das nossas Leituras Conjuntas, mas uma delas é respeitar as pessoas que nela decidiram participar, fazendo um esforço para concluir as leituras. Se isto não é para si motivo suficiente para não deixar um livro a meio, acho que isso não é problema meu…
Peço-lhe, por favor, para tentar aceitar uma crítica menos positiva a um livro do qual claramente gosta. Penso que é muito redutor achar que o sentido da minha opinião deriva do facto de ter lido o livro por “obrigação” e não por prazer. Nem todos temos de gostar do mesmo, é tão simples como isso.
Por aqui me fico,
Célia M.
Anna Karénina é uma das maiores histórias de amor da literatura mundial, e, sem dúvida, a que tem a melhor frase inicial de todos os tempos. Para pessoas menos cultas e ignorantes, o livro pode parecer muito secante e sem qualquer interesse; e isto acontece por um único motivo: as pessoas que o lêem, lêem-no pensando ir encontrar uma história emocionante entre duas pessoas, um amor intemporal, tempestuoso e acima de tudo muito romântico. Porém não é nada disto que o livro contem. Tolstoi era um eterno apaixonado em temas morais, e transportou esses mesmo temas para este grande romance. Por isso, a história de Anna é apenas como que um volante subtil para Tolstoi poder descrever a sociedade Russa, e para transmitir uma moral inquestionável. Não podia por isso deixar de abordar temas temporais existentes naquela altura, como é óbvio. Pessoalmente, pensei que este livro trata-se principalmente a história de Anna, mas pelo contrário deparei-me com uma imensidão de personagens com muito mais motivos para serem merecedoras do título do livro. Se o livro se chama-se «Konstantin Dmitrich Lévin», não seria nada mal pensado, ainda que pouco estético.
Agora, regressando ao tema. É verdade, é um livro grande e com descrições sociais e relacionadas com a agricultura bastante intensivas, mas é, sem sombra de dúvida, um dos melhores livros de sempre. Para pessoas que o não compreenderam bem, aconselho vivamente, o posfácio de Vladimir Nabokov.”Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.
sim sim, concordo plenamente. Até penso se Tolstoi escreveu o livro primeiro e decidiu o título depois de termina-lo, pois opções não faltavam. Acho que no fim escolheu Anna porque se o livro é uma crítica à hipocrisia da sociedade russa, Anna foi a que mais sofreu, pagou com a vida. Ou então pelo fato de sua história de amor ser o núcleo do livro para entreter o leitor e fazer com que o máximo de pessoas leiam.
Tolstoi poderia apenas ter escrito um livro de filosofia com os temas tratados no livro, ja que era tão ligado ao assunto. Porém não o fez, pois todos nós sabemos o quão maçante esses livros são. Procurou então montar um enredo, uma historia com começo, meio e fim, não só para fins filosóficos mas também para entretenimento do leitor, talvez também para que o livro atingisse o maior número de leitores. Em sua época, foi uma celebridade na Russia, atingiu seu objetivo. Não considero o livro maçante, pois não tem apenas um núcleo de personagem, pense em escrever um livro cujo enredo pode ser totalmente alterado por um persongem secundário, como Karenin recusando o divorcio. Uma tarefa para mestres. É comprido, mas 2 meses são o suficiente para le-lo. Sobre o amigo aí de cima que diz que não gostou de Anna por ela ser indecisa, numa eterna discussão consigo mesma sobre não saber o que fazer…Olhe por outro lado, é justamente isso que nos prende a ela. Personagem totalmente imprevisível, ficamos na curiosidade de saber o que ela vai fazer. Eu realmente não esperava que ela se mataria. Mas quando li O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, eu sabia desde o momento que Basílio entrou na historia que Luisa acabaria morrendo, porque para um personagem central de uma narrativa, ela era completamente previsivel, “mediocre”, assim como descreveu Machado de Assis. A boa moça do conto de fadas.