
Título Original: Lolita (1955)
Editor: Biblioteca Sábado
Páginas: 279
ISBN: 9788461284986
Tradutor: Fernanda Pinto Rodrigues
Origem: Comprado
Opinião: Ao longo do último mês, e no âmbito da Leitura Conjunta que fizemos no nosso fórum, tive oportunidade de ler Lolita, a obra mais conhecida do escritor russo Vladimir Nabokov, publicado em 1955 e adaptado ao cinema em 1962 por Stanley Kubrick (houve outra adaptação em 1997, mas com menos sucesso).
O livro é narrado na primeira pessoa por Humbert Humbert (HH), que logo de início declara que está preso – mais tarde descobriremos porquê, mas sabemos à partida que esse acontecimento está relacionado com a sua envolvimento com Lolita. HH conta-nos a história da sua vida, desde a sua infância, passando pelo seu trauma adolescente com Anabela, até à idade adulta em que desenvolve uma atracção especial pelas “ninfitas”, versões jovens das ninfas. Quando HH se muda para Ramsdale, fica em casa de Charlotte Haze, cuja filha de 12 anos, Dolores (Lolita), irá desencadear em HH uma enorme e imediata obsessão, sendo que o resto da história se desenrola em redor da mesma e das suas consequências.
Este é um livro que levanta questões morais bastante complexas, não sendo propriamente muito fácil para o leitor definir o limite que distingue amor de abuso. O livro é-nos contado na primeira pessoa por um pedófilo (não no sentido de criminoso, a que tantas vezes esta palavra é associada, mas no sentido de pessoa que sente atracção sexual por jovens/crianças), e apesar da mestria do autor em fazer-nos entrar na sua cabeça, nem sempre é fácil aceitar/compreender as suas reflexões e desejos. Para melhor apreciarmos a imensa complexidade do livro que se nos depara, é necessário criar um certo distanciamento com a história e as suas personagens. Estamos perante um enredo que não nos apresenta culpados nem inocentes: muito disso tem a ver com a pessoa que nos conta a história, cuja narração ambígua, que cria constantemente jogos duplos com o leitor, o leva a mudar constantemente a sua perspectiva sobre o que está a ler. No que diz respeito à dinâmica do livro, só é pena que a segunda parte apresente um ritmo mais lento, nem sempre conseguindo captar o interesse do leitor a 100%.
A escrita de Nabokov é sublime, recheada de metáforas e meias palavras, que envolvem o leitor como se de uma melodia se tratasse. Acho que ele escreveu exactamente o livro que desejava escrever, com o tom certo. Muito boa tradução de Fernanda Pinto Rodrigues: apesar de não conhecer a versão inglesa (língua na qual o livro foi originalmente escrito), pareceu-me que conseguiu captar muito bem a essência do escritor.
Em jeito de nota final: este é um clássico da literatura mundial que recomendo a todos. Provavelmente, não será de leitura fácil para os mais impressionáveis com o tema tratado, mas literariamente falando, é um livro extremamente recompensador.
Classificação: 9/10 – Excelente