Autor: Rachel Cusk
Título Original: Arlington Park (2006)
Editor: Edições Asa
Páginas: 240
ISBN: 9789892304533
Tradutor: Tânia Ganho
Origem: Recebido para crítica
Opinião: Às vezes, escondidos nas prateleiras, existem livros que se revelam autênticas surpresas. Arlington Park, de Rachel Cusk, foi um desses casos. Confesso que a sinopse me pareceu pouco atractiva, mas a escrita e a temática, pessoal e extremamente feminista, da obra foram-me cativando progressivamente. De certo modo, foi como ver a série “Donas de Casa Desesperadas” – de que tanto gosto – colocada em livro. Valeu a pena.
Em Arlington Park a vida corre pacata e serena. Neste bairro, virado para a classe média alta, nada parece fugir à normalidade… até que se abrem as portas das várias casas. De repente, tudo se transforma e o que parecia uma vida cor-de-rosa está, afinal, manchada de muito negro e/ou cinzento. O livro acompanha cinco mulheres, todas elas bastante diferentes, mas marcadas pelo mesmo sentimento de inadaptação à vida que as rodeia. Juliet, Amanda, Solly, Maisie e Christine são o rosto dos problemas femininos que muitas mulheres enfrentam, mas de que não falam.
São tratados temas, como, por exemplo, a prisão em que se torna a maternidade, a solidão no lar, a incompreensão afectiva dos maridos ou as dificuldades de coordenar a vida de toda uma família. Entramos no universo feminino de forma profunda e, enquanto mulher, não pude deixar de me interrogar sobre como me sentiria na pele de todas elas. A leitura torna-se intimista e bastante emocional, levando-nos a apoiar, a criticar e até a rir com as protagonistas.
Ler autores desconhecidos faz com que partamos sem expectativas. Foi o meu caso, por isso, cada página que lia me surpreendia. A escrita é simples, tocante, mesmo para criar uma ligação com os leitores. As descrições, um dos meus pontos de interesse, são simplesmente fantásticas. Por exemplo, o primeiro capítulo é quase todo dedicado à descrição de uma noite chuvosa e, em nenhum momento, a escrita se torna aborrecida. A autora soube conjugar de forma perfeita a agitação do dia-a-dia e a acalmia que cada um sente quando, por vezes, se põe a interrogar sobre o sentido da vida (que escolheu). – Cristina
Classificação: 8/10 – Muito Bom