[Opinião] Heavier Than Heaven, de Charles R. Cross

1149440Autor: Charles R. Cross
Ano de Publicação: 2001
Editora: Hyperion
Páginas: 381
ISBN: 9780786865055
Origem: Comprado

Sinopse: Alongside the death of Elvis Presley and the assassination of John Lennon, Kurt Cobain’s suicide in 1994 ranks as one of the generational milestones of American life – an epochal event in both rock ‘n’ roll and youth culture. This book is the story of Kurt Cobain’s life, from abject poverty to unbelievable wealth, power and fame. It traces the journey from his humble origins in Aberdeen to becoming lead singer of Nirvana, the most popular rock band in the world from 1991 to 1994, and the most influential band of this decade. The beautifully written text is complimented by 16 pages of photographs. Based on over one hundred interviews, Charles Cross allows us to understand Kurt Cobain’s personality. This is an incredible tale of a strange, tortured and very talented man.

Opinião: Quem me conhece sabe que, para além dos livros, a música é a minha outra grande paixão. Não passo um único dia sem me deixar levar por músicas que me fazem lembrar lugares, situações, pessoas e emoções. Não sou de estar constantemente a ouvir novos grupos e novos artistas, apesar de ocasionalmente gostar de o fazer: sou fiel aos meus grupos preferidos, àquelas músicas que me marcaram. Escolher o meu grupo/artista preferido não é tarefa fácil… Não porque tenha muitos, mas porque aqueles que tenho me inspiram profundamente, a vários níveis. Ainda assim, a ter de escolher um, escolheria os Nirvana.

Decerto a maioria de vocês já ouviu falar deles ou ouviu as suas músicas no rádio: foram, sem margem para dúvidas, o grupo que mais marcou a música nos anos 90. Muito do mediatismo deveu-se, sem dúvida, à tragédia que marcou o final da existência da banda, mas quem se der ao trabalho de ouvir o legado musical que deixaram para trás provavelmente conseguirá perceber o carácter etéreo e a intemporalidade das suas músicas.

Heavier Than Heaven conta a história do homem que criou os Nirvana, desde a sua infância até às trágicas ocorrências que rodearam a sua morte. Este livro é também o relato do nascimento dos Nirvana, cuja história muitas vezes se confunde com a do seu criador. Apesar de não ser católica, este livro foi um pouco como reler a história de Jesus Cristo: mesmo sabendo o final, é impossível evitar o desejo de que o final tivesse sido diferente.

Ao ler a história da vida de Kurt Cobain, apercebi-me do efeito devastador que um divórcio ocorrido durante a infância pode ter na mente de uma criança particularmente sensível e diferente das outras. Por vezes, ocorrem coisas na nossa vida que nos marcam profundamente e, se não tivermos uma estrutura mental que nos permita ultrapassá-las, as consequências podem ser catastróficas. Li a história de um homem que cresceu e viveu no meio de contradições dentro de si próprio, como por exemplo ter desejado ser amado durante toda a vida para depois sucumbir quando tinha todo o mundo a seus pés. Acompanhei a história de um génio (sim, porque era isso que ele era, goste-se ou não) que sem a sua peculiar personalidade e os eventos traumáticos por que passou jamais teria criado a obra que nos deixou. É também um relato (por vezes chocante) do que a dependência das drogas pode fazer a uma pessoa.

É impossível não me sentir triste ao ler uma história tão trágica, mas por vezes é necessário ficarmos cara a cara com os problemas dos outros: por uma questão de relativização e por uma questão de aprendizagem. E eu aprendi: (re)aprendi que a vida é o nosso bem mais precioso.

O facto de esta biografia ter sido elaborada com base em entrevistas (das quais ficaram de fora, mais notavelmente, David Grohl – o baterista da banda – e Wendy O’Connor – a mãe de Kurt) acentua um pouco o carácter subjectivo do livro. Por vezes, senti um pouco de liberdade a mais nas assumpções feitas, mas nada que altere a minha opinião final.

Não recomendo este livro de ânimo leve. Sendo um must read para qualquer fã da banda, aconselho-o a quem se interesse pela condição imperfeita do ser humano e pelas lutas interiores que constantemente travamos. Mas em especial, aconselho a sua leitura a todos os intolerantes que se limitam a julgar as pessoas pelos erros que cometem e que não conseguem ver para além disso. 

Classificação: 9/10 – Excelente

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Sobre Célia

Tenho 38 anos e adoro ler desde que me conheço. O blogue Estante de Livros foi criado em Julho de 2007, e nasceu da minha vontade de partilhar as opiniões sobre o que ia lendo. Gosto de ler muitos géneros diferentes. Alguns dos favoritos são fantasia, romances históricos, policiais/thrillers e não-ficção.