Autor: Cormac McCarthy
Título Original: The Road (2006)
Editora: Relógio d’Água
Páginas: 192
ISBN: 9789727089345
Tradutor: Paulo Faria
Origem: Comprado
Opinião: A Estrada, do norte-americano Cormac McCarthy, conta a história de um pai e um filho que percorrem a América num cenário pós-apocalíptico. Tudo está reduzido a cinzas (palavra e tonalidade repetida continuamente ao longo da história – como aliás podem comprovar no pequeno excerto abaixo), poucos seres vivos sobrevivem e a viagem de ambos acaba por se revelar um verdadeiro hino à coragem e à resistência.
Para mim, este livro foi um caso típico de “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Seja pela escrita, pelo tom da narrativa ou pela própria apresentação do texto (as falas não estão assinaladas com travessões e por vezes aparecem no meio da narrativa), demorei um bocado a entrar na história. Esta, à semelhança do cenário que as personagens principais enfrentam, é nebulosa e a forma como o escritor a conta deixa largo espaço à imaginação de quem a lê. Seja porque os lampejos do passado que atormenta o pai são descrições vagas, seja porque o leitor nunca chega a saber o que originou a devastação total ou mesmo o nome das personagens principais. E, no final de contas, este facto acaba por jogar a seu favor.
Às tantas, damos por nós a viver o medo, o frio e o cansaço das personagens. Torcemos para que elas não cedam ao desespero. E ficamos emocionados com o amor e o carinho que perpassam nos diálogos (e nos silêncios) entre pai e filho. O que eu sei é que, no final, gostava de ter continuado… e não pode haver melhor sinal que esse.
A estrada encontrava-se deserta. Mais abaixo, no pequeno vale, a linha sinuosa de um rio, estagnado e cinzento. Imóvel e de contornos bem precisos. Ao longo da margem, uma amálgama de juncos mortos. Está tudo bem contigo?, perguntou. O rapaz fez que sim com a cabeça. E então puseram-se os dois a caminhar no asfalto sob a luz metálica, cinzento-azulada, a arrastar os pés na cinza, e cada qual era o mundo inteiro do outro.