Em O Sofredor, Richard Yates apresenta-nos Walter Henderson, que da infância recorda com particular saudade as brincadeiras em que tinha de fingir que tinha morrido. Hoje, ultrapassada a maior parte da descoordenação que marcou o seu crescimento, é um homem de classe média, casado e com filhos, com um pendor especial para a desgraça e para o melodrama. Walter parece conseguir adivinhar, com alguma exatidão, quando estão coisas más para acontecer e, quase com um prazer culpado, sente-se feliz quando acerta.
O pressentimento que ia ser despedido já o acompanhava há alguns dias, e finalmente confirma-se. Walter alimenta durante algum tempo a ideia de esconder da mulher o facto, mas eventualmente acaba por desabafar com ela e deixar vir ao de cima o seu lado fatalista.
Lendo o resumo da história, o enredo não parece ter nada de particularmente notável, mas a forma como Richard Yates coloca as coisas, o modo como caracteriza as personagens e as situações sem precisar de as descrever de forma direta, torna todo este conto notável. Em relação ao despedimento de Walter, por exemplo, Yates nunca refere o motivo que o causou, nem acha isso relevante: o que interessa aqui é a reação, a forma como a personagem principal entende os eventos que influenciam a sua vida. Uma vez mais: muito bom.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante