Autor: Ana Simão
Ano de Publicação: 2016
Editora: Marcador
Páginas: 222
ISBN: 9789897542671
Origem: Recebido para crítica
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Um destino implacável.
Uma jovem apaixonada por um homem mais velho.
Um farol cheio de segredos.
Uma história única.
O que separa um amor do resto do mundo?
«Parece que ainda estou a ouvir aquela voz nova. Fecho os olhos e procuro-a dentro de mim. Consigo escutá-la. Gosto dela. É uma voz rouca de mel, serena e macia. Foi a única voz que ouvi quando regressei a mim. Estava tão perto e as outras tão longe. Não sei quanto tempo estive ausente, mas foi aquela voz que me trouxe à vida. Nunca a vou esquecer. Nem quero. Percebi naquele instante que estava viva e em segurança. E isso foi bom. Não sei quem é. Queria tanto agradecer-lhe: salvou-me a vida. Não sei como o vou encontrar. Já perguntei, mas ninguém sabe.»
Opinião: Ana Simão tornou-se conhecida pelo livro A Menina dos Ossos de Cristal, publicado em 2014, um registo quase autobiográfico onde fala sobre a osteogénese imperfeita, doença rara que acompanhou a vida da autora desde cedo. Em Naquela Ilha, Ana Simão opta por um registo completamente diferente e leva-nos a uma viagem à ilha Berlenga e ao centro de um amor complicado.
Giovana é uma jovem descomplicada de 23 anos, que cresceu na zona de Peniche e possui uma ligação forte ao arquipélago das Berlengas; dá aulas de mergulho, enquanto aguarda pelo momento certo para seguir a carreira de bióloga no exterior. Leonardo, com quase 50 anos, foge da dor de um longo casamento terminado e aceita a posição de faroleiro no Farol Duque de Bragança, na Berlenga Grande. Os dois encontram-se e sentem uma forte atração, o que os leva a viver uma relação algo conturbada, cheia de altos e baixos, no contexto muito particular que é a vida na Berlenga.
Mas nem só da relação entre as duas personagens principais vive o livro; a própria Berlenga se transforma numa personagem, com os seus peculiares moradores a viverem uma vida completamente à parte e isolada da civilização, pessoas que, segunda a autora, vivem as vidas umas das outras. Gostei muito desta componente do livro, bem como das informações que autora nos disponibiliza sobre este pequeno arquipélago sobre o qual, confesso, pouco sabia.
Em relação à relação das duas personagens principais, gostei de algumas coisas e de outras nem por isso. Por vezes, parece um amor demasiado perfeito e predestinado, a tal ponto que o leitor nunca duvida do desfecho final apesar de todas as contrariedades. Mas gostei da dimensão espiritual que é dada a esta relação, do ênfase dado ao inexplicável que por vezes caracteriza o amor. A escrita de Ana Simão é envolvente e pareceu-me realmente promissora para futuros voos, ainda que não tenha ficado particularmente fã do uso das primeira e segunda pessoas numa narrativa maioritariamente relatada na terceira pessoa.
No cômputo geral, é um livro agradável, passível de ser lido num dia, e que me parece bastante adequado a ser lido no verão. Ficarei atenta a futuras publicações desta autora.
Ali, na ilha, o tempo demora-se muito. É preciso encontrar-lhe o ritmo. Os dias demoram-se em desertos imensos. As horas ficam paradas, tão paradas como quem olha para o relógio à espera de que o ponteiro avance. O ritmo da ilha é aquele; há que saber acompanhá-lo. Giovana diz que um ano ali são muitos anos e é por isso que não faz sentido contar a idade das pessoas. Se assim fosse, a maioria dos habitantes já teria uns duzentos ou trezentos anos.
Classificação: 3/5 – Gostei