Autor: Meg Wolitzer
Título Original: The Wife (2003)
Editora: Teorema
Páginas: 288
ISBN: 9789724750750
Tradutor: Raquel Dutra Lopes
Origem: Comprado
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Mas Joe revelou-se medíocre enquanto pai e marido, concentrando-se unicamente no seu dom. E Joan, entretanto, perdeu qualquer sentido de identidade, vivendo apenas como “a mulher do génio”.
Agora, perante o apogeu da carreira literária do marido, é-lhe impossível refrear a memória do momento em que, ainda estudante, leu o primeiro conto dele. Chegou o momento de se confrontar com as consequências das opções que tomou tão cedo na vida – e do segredo que ambos sempre guardaram tão bem.
Opinião: Meg Wolitzer tornou-se conhecida dos leitores portugueses depois da publicação de Os Interessantes (Teorema | 2014), ainda que este não tenha sido o primeiro livro da autora a sair por cá; na verdade, A Mulher, agora publicado igualmente pela Teorema, já tinha conhecido uma edição portuguesa em 2009, pela editora Caleidoscópio.
A Mulher é narrado na primeira pessoa por Joan Castleman, uma sexagenária casada com o famoso escritor Joe Castleman. No início da narrativa, encontramo-los num avião rumo à Finlândia, onde Joe se prepara para receber um importante prémio litério; e é aí, acima das nuvens, que Joan decide que a sua vida de casada chegou ao fim. O espaço de tempo entre o fim dessa viagem e a estadia no país nórdico serve para a narradora relembrar a sua vida com Joe, desde que se conheceram – ele era professor dela na universidade – percorrendo toda a carreira dele até aos dias de hoje, e o papel que ela desempenhou naquela vida sempre cheia de viagens e eventos.
Joan cresceu e viveu num período em que as mulheres eram vistas praticamente como acessórios sem vida própria, que deveriam viver para o marido, os filhos e a casa; e ela pareceu aceitar esse papel resignadamente, como se a sua pessoa não pudesse existir de forma verdadeira sem Joe – “eu continuava a sentir que, de nós os dois, era ele o importante, e eu estava inacabada. Ele poderia acabar-me, pensei; poderia proporcionar-me as coisas de que eu precisava para me tornar de facto uma pessoa completa.” Apesar das suas capacidades de escrita, reveladas ainda cedo, Joan aceita de forma natural o destino de “mulher de”, adaptando a sua posição aos hábitos dos anos 1950: “eu não queria jogar no mesmo campo que os homens; nunca me teria sentido confortável e não seria capaz de competir. O meu mundo não era suficientemente grande, suficientemente abrangente, suficientemente dramático, e os temas ao meu dispor eram escassos. Eu tinha noção dos meus limites.“
Confesso que o sentimento de resignação chega a ser revoltante e é-o ainda mais quando chegamos ao final do livro e tomamos conhecimento de todos os factos da relação entre Joan e Joe; adivinhavam-se cedo na história, mas a sua magnitude impressiona e faz-nos desejar que Joan tivesse tomado uma atitude mais cedo.
Apesar de destacar a posição submissa de uma mulher notável, A Mulher é profundamente feminista, uma vez que condensa em Joan as vozes de tantas e tantas mulheres que sacrificaram os seus talentos e gostos pessoais em prol de valores que a sociedade entendeu serem mais importantes. Felizmente os tempos mudaram para melhor nesse aspecto, apesar de haver ainda muito por fazer. Agora quero muito ler Os Interessantes!
Toda a gente precisa de uma mulher; até as mulheres precisam de mulheres. As mulheres cuidam, pairam. Os seus ouvidos são instrumentos gémeos e sensíveis, satélites que detetam o mínimo traço de insatisfação. Nós, as mulheres, levamos caldo, levamos clipes, levamo-nos a nós mesmas e aos nossos corpos flexíveis e quentes. Sabemos o que dizer aos homens que, por algum motivo, têm uma grande dificuldade em cuidar consistentemente de si mesmos, ou seja de quem for.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante