Autor: Erik Axl Sund
Título Original: Pythians anvisningar (2012)
Série: As Faces de Victoria Bergman #3
Editora: Bertrand
Páginas: 384
ISBN: 9789722528825
Tradutor: Agneta Öhrström B. e Rita Chuva
Origem: Comprado
Opinião: Eis-me chegada ao último volume desta trilogia, impelida pela vontade de saber que desfecho a dupla de autores Erik Axl Sund guardaram para os seus leitores. Com a série de assassinatos no volume anterior aparentemente solucionada, o caso das crianças estrangeiras mutiladas regressa à ribalta e Jeanette sente-se mais do que nunca com vontade de o resolver, contando para isso com a ajuda da psicóloga Sofia Zetterlund.
Neste volume continuam, e acho mesmo que aumentam, as cenas gráficas relacionadas com a pedofilia e com assassinatos macabros. Por vezes são bastante difíceis de digerir, portanto pouco recomendadas a pessoas mais sensíveis relativamente a estas questões. Mas, como já tinha referido antes, nunca me pareceram forçadas ou que lá estivessem apenas com o propósito de chocar; fazem sentido no contexto da história e ajudam-na a ganhar os contornos macabros que me parecem importantes no enredo. E já que falo de naturalidade, tenho de destacar a forma como a homossexualidade não é abordada; ou seja, ela está lá, existe, mas não é um tema explorado, que se tenha considerado importante diferenciar. A relação de Jeanette e Sofia é como outra qualquer, e isso foi um aspeto muito agradável do enredo.
O que menos gostei foi do fim. Compreendo que, por vezes, seja necessário deixar pontas soltas nos enredos e que as mesmas acabem por funcionar melhor do que se o autor decidir deixar tudo resolvido. Mas aqui, optou-se por deixar completamente de lado um “confronto” resultante de uma importante revelação para uma das personagens principais. Depois de todo o interesse que os autores foram despertando nos leitores ao longo de três livros, chegar ao fim e não lhes oferecer as merecidas cenas foi uma completa desilusão.
No cômputo geral, foi uma trilogia interessante, que vale principalmente pela sua interessantíssima personagem principal, Victoria Bergman. Toda a sua vida e personalidades múltiplas são exploradas de forma bastante profunda e convincente e a forma como os escritores “brincam” com a perceção do leitor em relação a ela está muito bem trabalhada. Os temas tratados são atuais e relevantes e os autores conseguem abrodá-los com a importância que merecem. Mas, pessoalmente, achei o enredo algo desequilibrado, pelos diferentes níveis de interesse que me foi despertando no decorrer da leitura e também porque, com exceção de Victoria, as restantes personagens deixaram-me mais ou menos indiferente. O final deixa muito a desejar, quanto a mim, pelas suas demasiadas pontas soltas. A sensação que fica é a de grandes expectativas que não se confirmaram.
Não há memórias sem importância para o cérebro, pensa. Pelo contrário, muitas vezes os assuntos banais ocupam um lugar preponderante, enquanto afastamos aquilo de que nos devíamos lembrar, o que tem a sua própria lógica enternecedora. O cérebro não tem confiança em si próprio, na sua possibilidade de lidar com coisas difíceis e, por isso, é melhor lembrar-se de onde estacionámos o carro em vez de nos lembrarmos que o nosso próprio pai nos violou.
Classificação: 3/5 – Gostei