Autor: Donna Tartt
Título Original: The Goldfinch (2013)
Editora: Editorial Presença
Páginas: 896
ISBN: 9789722353663
Tradutor: Ana Saldanha
Origem: Ganho em passatempo
Opinião: Ultimamente tenho lido poucos calhamaços; isto deve-se a uma série de motivos, sendo o principal deles o “medo” de me comprometer em leituras tão longas e que me exigem uma dose de esforço adicional para depois correr o risco de não as apreciar por aí além e dar o meu tempo por perdido. Depois, porque implicam – ainda que a nível do subconsciente – com a minha vontade enorme de reduzir a pilha, porque acho sempre que vou demorar séculos a terminar o livro, tempo que poderia gastar a ler outros 2 ou 3. Ao ler o que acabei de escrever, dou-me conta que isto parece um tremendo disparate, até porque muitas vezes um único livro vale umas 10 leituras mais fracas, mas tenho de ser sincera e atualmente é isto que sinto.
O Pintassilgo tem quase 900 páginas e antes de começar a lê-lo ainda tive algumas dúvidas sobre aquilo em que me estava a meter, mas de qualquer modo decidi prosseguir. A história é contada na primeira pessoa por Theo Decker, que no início do livro, na idade adulta, percebemos estar numa situação complicada, devido a uma famosa pintura. Theo decide voltar atrás no tempo e contar-nos a sua história, a partir do dia em que tudo mudou, quando perdeu a sua mãe num ataque terrorista num museu. Antes do ataque, Theo pôde ouvir a sua mãe discorrer sobre uma das poucas pinturas que sobreviveram do pintor holandês Carel Fabritius, pupilo de Rembrandt e professor de Vermeer, de seu nome O Pintassilgo. Theo relata-nos a sua vida após a perda da mãe e até ao presente, o que inclui passagens por casa de amigos e do seu pai distante, enquanto passa pelas loucuras da adolescência e da descoberta do seu eu.
É um livro longo, muito longo, mas nem por isso complicado de ler. Donna Tartt escreve muito bem, é possível encontrar passagens belíssimas ao longo do livro, daquelas que temos vontade de guardar num caderno de citações (ou, pelo menos, era o que eu faria se tivesse um). Um relato na primeira pessoa é sempre complicado e pode ter algumas armadilhas difíceis de resolver, mas pareceu-me que a autora encarnou muito bem o papel e teve especial sucesso em captar os sentimentos do luto recente, o “e se?” que por vezes consome e magoa, e de um modo geral o que é crescer-se com sintomas de stress pós-traumático. Depois, toda a ligação de Theo com a pintura é extremamente bem conseguida, e percebemos facilmente que funciona como uma âncora, como um ponto de ligação a uma vida outrora feliz; como ele próprio afirma, “se os nossos segredos nos definem, em oposição ao rosto que mostramos ao mundo: então o quadro era o segredo que me erguia acima da superfície da vida e me permitia saber quem sou.”
A extensão do livro revela-se frequentemente um pau de dois bicos: se, por um lado, permite ao autor espaço para detalhes (com maior ou menor importância para o enredo, mas que são a sua imagem) e ao leitor a possibilidade de mergulhar profundamente na história, por outro lado a dificuldade em se conseguir equilíbrio no nível de interesse que os vários pontos narrativos suscitam, faz com que o leitor corra o risco de uma ou outra vez perder o interesse na história. Ou, pelo menos, foi isso que me aconteceu. De um modo geral, foi uma história que segui com bastante interesse e que várias vezes me cativou por completo, mas houve outras tantas em que dei por mim a pensar na utilidade do que estava a ler para o enredo principal e a desejar que passássemos rapidamente à frente.
Ainda assim, o balanço final é bastante positivo. É uma história muito bem escrita, com pontos de reflexão importantes, como o limite ténue entre o bem e o mal ou a forma pessoal como a arte deve ser encarada, e que peca apenas, na minha opinião, por ser um pouco longa demais. Recomendo.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante