Autor: Truman Capote
Título Original: In Cold Blood (1965)
Editora: Biblioteca Sábado
Páginas: 237
ISBN: 9788461205998
Tradutor: Maria Isabel Braga
Origem: Comprado
Opinião: Sabia muito pouco sobre A Sangue Frio, para além de ser um livro de não-ficção que tratava de um crime decorrido nos anos 1950-60. Um dos desafios em que estou a participar este ano foi o mote para finalmente lhe pegar, depois de o ter comprado em 2008.
Em 1959, no Kansas, uma família de 4 pessoas apareceu morta em sua casa, vítimas de mortes violentas, e aparentemente não existiam motivos ou suspeitos. Apenas alguns meses após os assassinatos apareceu uma pista forte, que permitiu à polícia perseguir e prender os culpados, dois ex-presidiários que tinham entrado na quinta dos Clutter à procura de dinheiro.
Truman Capote viajou para o local do crime pouco tempo após este ter decorrido, por ter lido sobre o caso e o ter achado interessante, bom material para escrever o tipo de livro que acabou por escrever. Capote entrevistou várias pessoas ligadas ao caso, inclusivé os assassinos, arranjando assim material para compôr este livro, um dos mais famosos dentro do género “romance de não-ficção”.
A informação recolhida com a ajuda de Harper Lee (autora de To Kill a Mockingbird, amiga de infância do escritor) permitiu a Truman Capote ordenar os eventos cronologicamente e narrá-los de uma forma muito pessoal, por vezes até poética, intercalando os acontecimentos que rodearam a família Clutter imediatamente antes dos seus assassinatos, a descoberta dos corpos e a investigação posterior, com o percurso dos assassinos, o seu estado de espírito e a relação entre ambos.
O principal atrativo deste livro é a tentativa de humanização dos assassinos e a análise psicológica dos mesmos. Muitas questões são levantadas sobre a origem da maldade e o que ela, na realidade, significa. A verdade é que os dois assassinos, Perry e Dick, mataram quatro pessoas a sangue frio sem motivo aparente. Truman Capote achou interessante tentar perceber o estado em que alguém está ou a que tem de chegar para perpretar um ato do género, que demonstra uma completa falta de compaixão e respeito pela vida humana.
É um livro intenso psicologicamente, por vezes difícil de ler. Capote pega bastante no argumento das infâncias complicadas (como a sua própria) e dos problemas psicológicos para justificar uma parte do injustificável. Penso que é necessário despirmo-nos da nossa tendência normal de tomar partidos para podermos avaliar de forma isenta o que o autor nos está a tentar transmitir. Acho que o consegui fazer e, apesar de autores de atos brutais e irreversíveis, compreender um bocado Perry e Dick. E isso é uma das coisas mais notáveis deste livro.
A Sangue Frio estimula a reflexão e faz-nos compreender (ou pelo menos, tenta) este ato de violência praticamente gratuita. Fá-lo de uma forma competente, com uma escrita muito acima da média, apesar de ser um livro, na maioria do tempo, forte psicologicamente e que exige ao leitor estar no espírito certo para o ler. Recomendado.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante