Autor: Ursula K. Le Guin
Título Original: The Lathe of Heaven (1971)
Editora: Editorial Presença
Páginas: 180
ISBN: 9789722331562
Tradutor: Carlos Grifo Babo
Origem: Comprado
Opinião: As minhas experiências com Ursula K. Le Guin resumiam-se, até à data, a um começo algo duvidoso com Lavínia e uma leitura muito positiva com Os Despojados. Ficou, desde então, a vontade de voltar a esta autora e estava a contar fazê-lo com a série Earthsea, que comprei na última Feira do Livro, na qual também adquiri, sem contar com isso, este O Tormento dos Céus. E que excelente regresso a esta autora.
George Orr é um homem com o poder de mudar o mundo com os seus sonhos. Quando ele sonha com determinado acontecimento, seja ele de pequena ou grande dimensão, assim que acorda esse acontecimento torna-se uma realidade, transformando o mundo retroativamente. A pressão psicológica que um poder destes exerce sobre George leva-o a consumir drogas para parar de sonhar ou, em último caso, de dormir. Só que no mundo em que George vive, a cidade de Portland no ano 2002 (portanto, 31 anos no futuro em relação à data em que este livro foi escrito), a compra de medicamentos é bastante controlada e George é apanhado a utilizar cartões de outras pessoas e, por isso, enviado para um psiquiatra no âmbito de um programa de tratamento voluntário.
Assim que o psiquiatra, Dr. Haber, se apercebe do poder que George tem, começa a orientá-lo para ter determinados sonhos que não só vão de encontro a ambições pessoais como têm como objetivo de “melhorar” o mundo em que vivemos: esses sonhos originam alterações como a eliminação de biliões de pessoas para resolver o “problema” da sobrepopulação e da consequente falta de recursos, ou a mudança da cor de pele de todos os humanos para a mesma cor de modo a evitar a discriminação racial.
Este é um livro que trata, sem dúvida, de questões muito interessantes. A principal é a vontade que o ser humano tem de moldar o planeta em que vive aos seus desejos (representados pelos sonhos nesta história), muitas vezes passando por cima daquelas que deveriam ser as suas preocupações centrais em termos de sustentabilidade. O livro chama a atenção para a responsabilidade que o ser humano tem em relação às suas ações, em que muitas vezes vemos refletida a vontade de assumir o papel de Deus (ou, pelo menos, do poder que é atribuído a esta figura mítica). As duas personagens centrais são antagónicas, no sentido em que um tem o poder mas acha que o mundo deve seguir o seu ritmo, enquanto que o outro considera que esse poder deve ser utilizado em prol do bem maior, e que os fins justificam os meios.
A juntar ao tema interessante, temos uma história desenvolvida a bom ritmo e que demonstra que não é preciso escrever um calhamaço para conseguir um enredo rico e cativante. As personagens estão também bem desenvolvidas porque se mostram ao leitor humanas, com os seus defeitos, virtudes e dilemas. Por fim, e não menos importante, que escrita maravilhosa. Ursula K. Le Guin apresenta-nos aqui uma prosa cuidada mas cativante, que embala o leitor ao longo destas páginas que desejamos nunca chegarem ao seu final.
Portanto, adorei este livro. A premissa cativou-me desde o início, fui ficando rendida à escrita e achei maravilhosa a forma como a autora explora assuntos que ainda hoje, passados 43 anos da publicação deste livro, continuam bastante atuais. Uma autora para continuar a descobrir.
Classificação: 5/5 – Adorei