Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Título Original: Half of a Yellow Sun (2006)
Editora: ASA
Páginas: 544
ISBN: 9789892305387
Tradutor: Tânia Ganho
Origem: Comprado
Opinião: Biafra: uma palavra cujo significado desconhecia completamente até ter pegado neste livro. Entre 1967 e 1970, a região sudeste da Nigéria declarou a sua secessão devido a divergências étnicas, religiosas e económicas, criando a República do Biafra, constituída maioritariamente por cristãos. Esta República foi apenas reconhecida oficialmente por cinco países (Gabão, Haiti, Costa do Marfim, Tanzânia e Zâmbia), e ajudada por alguns países e instituições, entre os quais Portugal. O nosso país ainda vivia numa ditadura à data destes acontecimentos e apoiou o Biafra discretamente, principalmente a nível humanitário, mas também forneceu armas e munições.
O aparecimento e curta existência da República do Biafra é o pano de fundo do livro “Meio Sol Amarelo” – o símbolo presente na bandeira do país. A história vai sendo contada na perspetiva de 3 personagens diferentes: Ugwu, um jovem criado; Olanna, a mulher do homem que o emprega; e Richard, um inglês apaixonado pela irmã gémea de Olanna, Kainene. O foco do enredo é precisamente a vida e as relações entre todas estas personagens ao longa da década de 1960, com alguns avanços e recuos no tempo. Esta técnica ajuda a criar algum suspense na parte ficcional da narrativa, mas achei que não facilita a compreensão do sucessão dos acontecimentos no que respeita à parte histórica.
Gostei da escrita da autora: clara, com belos momentos descritivos e de diálogos, mas para o meu gosto pessoal, passou-se demasiado tempo à volta das personagens e dos seus dramas (com alguns acontecimentos dignos de uma novela mexicana). Com exceção de Ugwu, estas pessoas pertencem a uma classe média-alta, e isso não me ajudou a senti-las verdadeiramente no centro dos acontecimentos brutais que decorriam à sua volta e que resultaram na morte de mais de um milhão de pessoas, resultado da fome ou de combates. O livro contém, claro, cenas impressionantes decorridas neste palco de guerra e percebo que é interessante ver como mesmo as pessoas com mais posses sofreram os seus efeitos, mas foram poucas as vezes em que me senti realmente incomodada com o que estava a ler, como achei que seria normal, e isso teria contribuído bastante para o impacto que esta leitura teve sobre mim.
O principal mérito que este livro teve, a nível pessoal, foi a aprendizagem sobre um acontecimento histórico que desconhecia. A parte ficcional não me conquistou por aí além: as personagens nunca me pareceram muito reais e convincentes e não cheguei a criar grande empatia com elas ao longo destas mais de 500 páginas.
Resumindo, gostei do livro. Não foi uma leitura arrebatadora ou inesquecível, mas fica a valiosa aprendizagem histórica e a vontade de apostar em mais autores africanos. Nota final para a tradução/revisão impecáveis: para além de não ter encontrado uma única gralha (é obra, num livro longo), sinto que se captou muito fielmente a voz da autora.
Classificação: 3/5 – Gostei