Autor: David Soares
Ano de Publicação: 2010
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 368
ISBN: 9789896371883
Origem: Ganho em passatempo
Opinião: Do escritor português David Soares, já tinha lido o Lisboa Triunfante, de que na altura gostei bastante. O seu romance seguinte, O Evangelho do Enforcado, tem tido críticas muito positivas em vários blogues que consulto e por isso foi com as expectativas em alta que parti para esta leitura.
Em linhas gerais, trata-se de um livro que pretende desvendar um pouco do que esteve por trás da execução e concepção dos famosos Painéis de S. Vicente, com data de pintura estimada para meados do século XV, na época pré-Descobrimentos, e onde figuram as três principais classes: povo, clero e nobreza. Actualmente, os Painéis encontram-se no Museu Nacional de Arte Antiga e sem dúvida que a minha curiosidade em vê-los aumentou bastante após a leitura deste livro.
A personagem central da história é o presumível pintor dos Painéis, Nuno Gonçalves. Acompanhamos o seu crescimento e desenvolvimento, até se tornar pintor do reino e ter executado a sua obra mais conhecida. Como existe muito pouca informação sobre a sua vida, o autor aproveitou para “contar” a sua versão, sempre tendo em atenção o contexto histórico em que o enredo se desenvolve. E é também na caracterização e na narração dos acontecimentos que acompanham a vida de Nuno Gonçalves que o romance adquire contornos fantásticos/de horror. Nuno demonstra desde cedo tendências necrófilas, o que dá azo a vários momentos gore, que poderão impressionar os mais sensíveis. Sempre presente também é a morte, elemento encarado com uma certa naturalidade na época descrita.
Ao mesmo tempo que seguimos Nuno, vamos também acompanhando as vicissitudes que rodeiam as principais figuras do Reino, a Ínclita Geração, que ganhou este epíteto pela (suposta) grande contribuição para o desenvolvimento da nação e da sua visibilidade mundial. Digo suposta porque o livro mostra-nos estas personagens de forma bastante diferente da percepção geral – principalmente D. Duarte I (no livro chamado Eduarte; desconheço se Duarte é uma actualização desse nome) e o Infante D. Henrique. Este último é apresentado como um homem ambicioso, irresponsável e com tendências homossexuais. De uma forma resumida, deparamo-nos com esta parte da História de Portugal contada de uma forma bem diferente daquilo que nos ensinam na escola, o que me agradou particularmente porque sou da opinião que as factos históricos que nos são transmitidos enquanto crescemos estão algo deturpados e sofrem do mal do unilateralismo.
Tenho a dizer que fiquei impressionada pelo nível de detalhe histórico e do notório trabalho de pesquisa que servem de base à história que o livro nos apresenta. O autor mostra um domínio quase perfeito sobre as características da sociedade portuguesa do final da Idade Média, o que empresta ao livro uma sensação de verosimilhança notável, pelo nível de rigor necessário para o alcançar. Os Apontamentos Finais são muito interessantes e mostram ao leitor um pouco da pesquisa efectuada e vários detalhes históricos e outros relacionados com a construção do enredo.
Para mim, o único senão deste livro foram as descrições demasiado gráficas dos elementos de horror, que confesso me terem deixado desconfortável algumas vezes, mas já compreendi, até pela leitura anterior, que é este o estilo do autor. Fora isso, considerei-o uma excelente leitura.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante