Autor: Aldous Huxley
Título Original: Brave New World (1932)
Editora: Editores Associados – Unibolso
Páginas: 242
Tradutor: Mário Henrique Leiria
Origem: Empréstimo
Opinião: Das distopias mais conhecidas, esta era a que me faltava ler pela dificuldade de encontrar o livro à venda… de tal modo que para o ler, teve de ser emprestado. Considerada das obras mais importantes do género, especialmente a par de Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, de George Orwell, Admirável Mundo Novo apresenta-nos uma sociedade futurista na qual os seres humanos são condicionados não só a nível biológico, mas também psicologicamente, antes de nascerem e ao longo da vida, para viverem felizes. Ou, pelo menos, felizes de acordo com as convenções próprias desta sociedade imaginada.
O conceito de família é inexistente: as pessoas são literalmente criadas em laboratório (processo para o qual o livro nos oferece alguma explicação científica) e as diferenças que possuem são determinadas desde essa altura, numa espécie de sistema de castas. Existem os Alfas, pertencentes à casta mais elevada, e depois os Betas, os Gamas, os Deltas e o Epsilons; cada uma delas tem tarefas e competências características, e as pessoas são condicionadas para se sentirem felizes com as tarefas mais ou menos básicas que desempenham e nunca desejar algo mais. Qualquer percalço é facilmente resolvido tomando doses de “soma”, uma droga sem efeitos colaterais.
A religião, nos moldes em que a conhecemos, não existem; existe, sim, uma veneração à metodologia fordiana (no livro, Henry Ford é tratado por Our Ford, derivado de Our Lord), adoptando-se os conceitos subjacentes à famosa Linha de Montagem implementada por Henry Ford aquando da produção, no início do séc. XX, do modelo Ford T. Na sociedade aqui apresentada, o sexo não é tabu e é visto com normalidade a existência de vários parceiros sexuais para pessoas que desde crianças ganham consciência sexual. Apesar de este modelo de sociedade ser o predominante, existem alguns locais onde vivem os chamados “selvagens”, que continuam a viver como os seus antepassados, em família e com as crianças – imagine-se! – ainda a serem geradas no ventre das mães.
É curiosa a utilização, para várias personagens deste livro, de vários nomes que remetem para figuras importantes na altura em que o livro foi escrito (e ainda hoje): Fanny Crowne, Polly Trotsky, Benito Hoover, Helmholtz Watson, Bernard Marx ou Lenina. Bernard é um pouco diferente, é um Alfa que se supõe ter sofrido alguma falha no processo de concepção devido à sua baixa estatura, para além de apresentar várias diferenças a nível de percepção do que o rodeia face aos restantes Alfas. Ainda assim, inicia uma “relação” com Lenina, e nesse contexto os dois irão visitar uma colónia de selvagens na América do Sul, onde encontram John, filho de dois seres humanos condicionados, que acabou por crescer completamente alienado da sociedade onde os seus pais foram criados. John cita Shakespeare em praticamente qualquer situação e não se consegue ambientar a este admirável mundo novo que terá de enfrentar. E é também sobre o choque entre estas duas visões do mundo que o livro se centra.
Por serem as duas distopias mais lidas e conhecidas, é quase impossível não comparar Mil Novecentos e Oitenta e Quatro e Admirável Mundo Novo. E, se ambas nos apresentam uma sociedade onde a liberdade não existe, no livro de Huxley parece existir um menor controlo sobre as pessoas, porque está tudo tão enraizado que o controlo não é estritamente necessário. Como Neil Postman afirmou (tradução minha), “O que Orwell temia eram aqueles que baniriam os livros. O que Huxley temia era que não houvesse qualquer razão para banir um livro, porque não haveria ninguém que quisesse ler um. […] Orwell temia aqueles que nos privariam da informação. Huxley temia aqueles que nos dariam tanto que ficaríamos reduzidos à passividade e ao egoísmo. Orwell temia que a verdade nos fosse ocultada. Huxley temia que a verdade se afogasse num mar de irrelevância. ” Olhando para a nossa sociedade, e com as devidas diferenças, parece-me que a versão de Huxley é mais certeira. Ainda a propósito disso, aqui está um cartoon bastante interessante. Gostei muito de ambos os livros, mas esta leitura perdeu por já não ter o factor novidade que o livro de Orwell teve, para mim. Independentemente disso, é uma leitura altamente recomendada.
Classificação: 4/5 – Gostei Bastante