Autora: Tânia Ganho
Editora: Porto Editora
Páginas: 320
ISBN: 9789720042972
Origem: Recebido para crítica
Baseado em quatro personagens profundamente humanas e complexas – o piloto estranhamente supersticioso com licença para matar, a sua mulher artista e impressionável, a sogra africana, sábia e marcada para toda a vida, e o sogro amargo que carrega um pesado segredo dos seus tempos de guerra na Guiné-Bissau -, A Lucidez do Amor é um romance inquietante e cheio de suspense, que questiona o significado do amor, explorando as diferenças que nos separam uns dos outros, mas que podem também unir-nos irrevogavelmente.
Opinião: Até agora, apenas conhecia o trabalho da Tânia Ganho no que à tradução diz respeito, pelas traduções em A Vida em Surdina (David Lodge), O Mundo Invisível (Shamim Sarif) ou Aquele Verão em Paris (Abha Dawesar), mas desta vez tive oportunidade de ler um trabalho de sua autoria e comprovar que, para além das excelentes traduções, é uma autora que vale a pena conhecer. Este A Lucidez do Amor é o terceiro romance de Tânia Ganho e está disponível nas livrarias a partir de hoje.
Este livro acompanha a vida de um casal, ela portuguesa e ele francês, separado pela guerra no Afeganistão, quando Michael é destacado para uma missão nesse país em conflito, em 2006. A história tem início no dia em que se separam, e cada capítulo marca a passagem de um dia em que ambos desejam que a separação termine. Vamos acompanhando a vida de Paula e do seu pequeno bebé, ela própria “fruto” de uma guerra, uma vez que os seus pais se conheceram quando o pai foi para a Guerra do Ultramar, na Guiné-Bissau. Ao mesmo tempo, vamos tendo alguns vislumbres do que se passa no Tajiquistão, onde se situa a base de Michael. No meio destes relatos, ficamos também a par da história do casal, desde que se conheceram até ao tempo presente.
Apesar da visão dos dois lados da barricada, penso que o livro trata basicamente da visão feminina da guerra. Das mulheres que ficaram e continuam a ficar em casa à espera que os seus maridos regressem de guerras, aparentemente sem qualquer sentido. Porque é em Paula e nas saudades que sente do marido que o livro mais se centra. Mas fala também do (pouco) sentido das guerras actuais, que continuam a destruir países pobres e as vidas das pessoas que lá estão, e do conflito interno dos militares, que lutam contra o facto para fazer aquilo que “devem” por oposição àquilo que está certo.
Gostei muito da voz da autora. Com uma escrita despretenciosa, envolve-nos na história e nos dilemas das suas personagens. Mesmo antes de ler a nota final, onde refere que a guerra do Afeganistão era um tema próximo e doloroso, consegui percebê-lo nas suas palavras ao longo do livro, pela emotividade que delas extravasa. Sinceramente, uma leitura que achei valer bastante a pena. Termino com a transcrição do último parágrafo do livro: uma grande verdade e a explicação do seu título:
Dizem que o amor é cego, mas é a paixão que não vê defeitos e incoerências. O amor é lúcido, vê as falhas e as contradições e, apesar disso, subsiste.
Classificação: 8/10 – Muito Bom